É como uma pérola no interior de uma ostra. Um prédio remodelado com um precioso jardim no interior.
Fotografia: José Manuel Ferrão Produção: Amparo Santa Clara
Texto: Mafalda Galamas
Do lado de fora, a quem passa a passo apressado, nada faz antever a forma como se desenvolve este prédio recuperado. As linhas contemporâneas da arquitetura de interiores denunciam uma remodelação recente. E a paleta neutra na base deste apartamento funciona, agora, como uma tela em branco que deixa brilhar as artes complementares que aqui coabitam. Não tivesse o resultado final a mão da artista plástica Ana Calém, responsável pela decoração desta habitação.
Apesar de formada em gestão, e com diversos anos de experiência profissional em banca, a pintora e ceramista enveredou por um trilho mais artístico, após levar a cabo diversas especializações, nomeadamente em Pintura e no Curso Avançado de Artes Plásticas, ambos no Arco. Hoje também coordena projetos de reabilitação e neste imóvel, em concreto, assinou a decoração de interiores e o projeto de arquitetura paisagista do terraço e jardim.
As assoalhadas distribuídas por cerca de 200 metros quadrados, gozam da luminosidade incrível de Lisboa. Grande parte possibilitada pelas janelas rasgadas com ligação ao jardim privado. Este é, sem dúvida, o ex líbris da casa. Perante o qual se desenrolam as principais divisões sociais, nomeadamente a sala situada num piso cimeiro.
Alguns elementos da sala, ajudam a perceber a história de quem aqui vive, da carpete estendida no chão, ao aparador ripado de madeira, passando pela estante de livros que adorna a parede.
A sala foi ampliada pela pérgula de madeira, executada à medida, no espaço exterior virado a Sul. Está coberta por acrílico de forma a proteger da chuva e permitir ser um espaço a usufruir em qualquer altura do ano. Além de garantir maior privacidade, tem um jogo de luz muito bem pensado que resulta particularmente quando a noite cai. Por aqui, as plantas são sobretudo roseiras e trepadeiras.
Contudo, desfrutar do jardim não é um privilégio permitido apenas a quem está na sala. É, aliás, da cozinha que se tira maior partido deste pequeno oásis dentro da cidade. A divisão que é, por tradição, tratada como se de um laboratório de trabalho, aqui foge à regra, tendo sido tratada com especial atenção.
Ana Calém sugeriu que se pintassem as paredes de cinzento suave, como forma de quebrar o excesso de branco que tornava o espaço algo frio.
Trabalhou, igualmente, a iluminação de uma forma pouco usual numa cozinha. O lustre acima da mesa de refeição é um exemplo claro disso mesmo.
Já do ponto de vista funcional, na ilha, o balcão de refeição foi transformado em armário com prateleiras para arrumação. O tapete de ráfia no qual assenta a mesa de refeições ajuda a aquecer o ambiente e a esquecer onde estamos. Destacamos, ainda, as divertidas figuras de revista pintadas, emolduradas e penduradas nas paredes.
A mesa com pés em tronco de madeira e tampo de vidro também demonstram o gosto dos proprietários pelos materiais naturais. Destacamos a cesta com flores por cima da mesa pelo facto de conter pequenas flores em cerâmica, executadas com o maior detalhe. Nas paredes, parte das aguarelas da autoria de Ana Calém, representam paisagens da Irlanda. As outras, foram inspiradas em fotografias de Arpad Szenes e Maria Helena Vieira da Silva. Porém, a magia acontece lá fora…
Ana Calém tentou trazer um pouco da Sintra de todos os portugueses, para este refúgio familiar. Cultivou espécies como: estrelícia gigante, magnólia de folha caduca, camélias, jasmins, e outras tantas plantas para dar cor, luz e aroma, como roseiras ou alfazemas. Ao fundo, na parede, e não menos importante cresce uma horta vertical, com as ervas aromáticas para vários gostos!
Só a zona privada da habitação não tira partido desta vista refrescante. Nos quartos, a brisa é antes proporcionada pelas ventoinhas. Os cortinados são de linho, o canguru da Zara Home e o banco de apoio executado em cerâmica .
Já no segundo quarto, a pintura a acrílico é uma obra da autoria de Teresa Caria.