Por a 18 Abril 2020

Elizabeth Hewitt, a fundadora da Tulu Textiles, escreve-nos a partir de sua casa, em Istambul, sobre o seu trabalho e o seu dia a dia em tempos de Covid-19. Uma das primeiras pessoas a importar os ikats para os padrões ocidentais, viajante intrépida e fora-da-caixa, Elizabeth, em exclusivo, para a URBANA.

Imagens cedidas; entrevista feita por e-mail

A criadora no radar de mais um #emcasacom é uma “colecionadora de pessoas e uma story teller nata e os seus tecidos são versões visuais de histórias contadas depois de uns quantos cocktails”. Elizabeth Hewitt é a mulher por trás da TULU TEXTILES, sediada em Istambul, Turquia, que a URBANA tem vindo a seguir (e a mostrar-vos nas suas páginas).

Elizabeth Hewitt

A combinação única de escala, padrão e cor da Tulu brinda-nos com designs arrojados e bonitos, sofisticados e despretensiosos. Os tecidos da Tulu são impressos à mão no Rajastão e tecidos à mão por mestres ikat no leste do Uzbequistão. Criada em Filadélfia (EUA) e formada pela Faculdade de Têxteis e Ciências daquela cidade, Elizabeth sempre pensou fora da caixa, em cores e padrões surpreendentes e únicos, projetando com o olhar de um artista e a mente de um viajante. Já no Equador, depois de se formar, Elizabeth tomou contacto com os tecidos tradicionais. Do Equador, Elizabeth viajou pelo Paquistão, Índia, Ásia Central e Turquia.

Foram estas viagens, nomeadamente as empreendidas ao Uzbequistão, que a motivaram a desenvolver a sua própria empresa, desenhando e produzindo ikats contemporâneos de alta qualidade para interiores high-end e clientes de moda, incluindo Oscar de la Renta.

DE QUE FORMA A ATUAL SITUAÇÃO AFETA A SUA VIDA?
ELIZABETH – Aqui, em Istambul, estamos principalmente em casa – todos os fins de semana há um bloqueio completo -, que nos obriga a ficar dentro de casa. Durante a semana, posso passear pela cidade – o que tenho feito quando não chove. Tenho muita sorte porque moro numa cidade mágica! Hoje em dia, o Bósforo é tão azul e a cidade está vazia e limpa e por isso sinto muita gratidão.

Roupa de cama Lama

O meu dia-a-dia é muito diferente em tempos “normais” – normalmente trabalho com e-mails, pedidos e produção, vou ao showroom e ao escritório, faço pesquisas de antiguidades e vou ao bazar algumas vezes por semana. Tenho aulas de árabe e co-direciono uma ONG para refugiados sírios em Istambul (addarcenter.org) – por isso estou por lá vários dias da semana. Mas agora todos estes lugares estão fechados.
Também sou co-proprietária de uma loja em Nova IorqueTAMAM – e vou lá com frequência, mas agora isso foi interrompido, claro. Mesmo por isso, estamos a mudar a nossa forma de pensar, e fazemos todo o trabalho on-line e remotamente.

Os meus tecidos estão disponíveis em showrooms nos EUA – em sete cidades – e todos estão a funcionar, remotamente; chegam-nos pedidos de designers, mas como a minha produção é na Índia e no Uzbequistão, e estes dois países estão totalmente bloqueados, temos de esperar! É stressante para todos. E além disso preocupo-me muito com as pessoas com quem trabalho na Índia e no Uzbequistão e nas suas situações.

COMO É HOJE O SEU DIA A DIA?
Hoje é sábado, e não podemos sair de casa, mas felizmente, temos um terraço e por isso tomei o meu café no terraço e cuidei das minhas plantas. Estou a trabalhar numas colagens e como a minha filha está comigo hoje vamos fazer uma sobremesa de crumble de morango. Configurei ainda o meu dia de trabalho para a realização de vendas, pedidos, etc., tenho de nseri-los no Excel, de março até agora – tenho vindo a negligenciar isto desde meados de março!. À noite dançamos e jogamos canastra – que é o meu jogo de cartas favorito -, e que aprendi com a minha avó quando era criança.

‘plaid’ Louise na cadeira da secreária neste espaço de @kellywearstler




COMO SE ADAPTOU À NOVA SITUAÇÃO EM CASA DEVIDO AO COVID-19?
No início até era divertido, era como um feriado prolongado – apenas um desconectar repentino de uma vida em ritmo acelerado. A minha filha tem 11 anos e passa o dia inteiro a estudar, o que é bom porque está ocupada e tem rotina. Mas também é difícil, fica no computador durante sete horas por dia – ela sofre de enxaqueca. Temos cozinhado muito e feito alguns projetos de arte. Nos primeiros dias não fiz exercício físico (o tempo estava péssimo) e tinha uma dor nas costas terrível – e por isso comecei com exercícios especiais e hoje faço exercício todos os dias, é essencial para a minha mente! Tenho ligado mais aos amigos e familiares, e envio mensagens – em regra não estou muito ao telefone, mas agora sinto qe me ajuda ouvir as vozes das pessoas durante este isolamento.

Dolly

Estou habituada a estar cercada de pessoas, no bazar, nas lojas de antiguidades, de amigos e da minha ‘família’ no Addar Center – onde nos reunimos para ver um filme à sexta-feira à noite, fazemos refeições aos sábados e jogamos pingue-pongue. Sinto muita falta disso.
Estou sempre a planear viagens – Índia, Nova Iorque ou Vietname (estavamos a planear ir lá no início de abril)… agora só planeamos o que cozinharemos!
Claro que tenho muito trabalho por isso tento concluir uma tarefa todos os dias – inserindo itens de stock, tirando fotos, trabalhando em projetos, pedidos, ideias para criar mais negócios on-line para a Tulu e a Tamam …
Também já fizemos algumas ‘festas’ via zoom com amigos, e foi muito divertido e até meio tonto – algo que eu não teria feito no passado.


Comecei a compilar uma lista com os amigos sobre as medidas que precisamos de tomar e as prioridades – entrámos em contacto com a nossa comunidade no Ad.dar e fazemos tudo o que podemos para encontrar grupos fiáveis ​​para contribuir nas próximas eleições nos Estados Unidos da América, além de questões que envolvem pobreza e desigualdade. Agir, mesmo que em ponto pequeno, ajuda o meu estado de espírito.

QUE CONSELHOS DARIA AOS LEITORES DA URBANA EM TEMPOS DIFÍCEIS E ESTRANHOS COMO ESTES?
Hmmmm, não sei bem se estou qualificada para dar conselhos! Mas o que descobri que funciona para mim é fazer um balanço de tudo o que tenho a agradecer, concentrar-me no bem e na minha sorte de viver num lugar bonito, com coisas bonitas, agradecer o facto de estar segura e saudável Não exerço muita pressão sobre mim própria para ser muito produtiva ou para concluir tudo – e alguns dias até são descartados.
Ouço muitos podcasts de notícias / política diariamente – mas também tento ouvir algo descontraído ou ler algo divertido todos os dias – rir ajuda muito.

Coleção Harper em rosa

Acredito que se a minha cama não for feita, nada vai correr bem naquele dia.

Abraço a minha filha muitas vezes ao dia – por isso, se tiverem a sorte de estarem isolados em casa com outra pessoa, abracem! E DANCEM! Pelo menos uma vez por dia, ligo a música e danço – tanto a minha filha como eu temos tentado aprender alguns movimentos de Bollywood – difíceis e divertidos – e rimo-nos às gargalhadas! Sei que não ficaremos assim para sempre. E uma regra que eu nunca quebrei (nem antes, nem agora) é… fazer a cama! Acredito que se a minha cama não for feita, nada vai correr bem naquele dia.

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