De ascendência japonesa e fortemente inspirada pelas referências orientais, Mel Kahawara sempre acreditou que o processo manual acrescenta valor quando feito com dedicação. Depois de um percurso pelo design de interiores, foi no desenho de candeeiros que encontrou o seu caminho.
Fotografia de entrada: Fran Parente
Arquiteta de formação, Mel Kahawara trabalhou em projetos de interiores mas a sua mente inquieta queria explorar novos horizontes em escalas menores. O design industrial acabou por falar mais alto, e de uma primeira abordagem ao papel, nasceram coleções de candeeiros que parecem origamis e têm nomes inspirados nas suas origens japonesas. À Urbana contou um pouco mais sobre a sua história, as suas inspirações e os desejos para o futuro.
Fale-nos um pouco do seu percurso, como chegou aqui?
Sou formada em arquitetura e urbanismo na FAU-USP, onde pude ter uma base muito ampla com aulas de história da arte, história da arquitetura, design gráfico, planeamento urbano, paisagismo, sociologia, cálculo, análise de resistência de materiais, design de objetos, entre muitas outras disciplinas complementares. Para além disso, morei durante um período de tempo em Berlim, onde também pude expandir ainda mais o meu repertório durante a minha formação. No meu trabalho de final de curso, estudei um grupo de artistas japoneses do pós-guerra chamado Mono Ha e comecei a minha própria pesquisa sobre alguns materiais e as diferentes possibilidades de manipulação dos mesmos. Um desses materiais foi o papel. Desde então, tenho vindo a pesquisar e experimentar diversas formas de o manipular.
Quais foram as grandes inspirações e motivações para desenhar e criar estas peças?
As inspirações são muito diversificadas, mas acho que a minha ascendência japonesa tem bastante peso nas minhas referências. Gosto muito do trabalho do Isamu Noguchi, por exemplo. Para além disso, acho que sempre acreditei que trabalhos manuais além de terem um poder terapêutico, quando feitos com dedicação possuem um valor muito diferente de um processo 100% industrial. Não que seja melhor ou pior, mas diferente e há muita beleza nisso.
Como é o processo criativo das mesmas?
O processo criativo depende de cada peça. Nos modelos iniciais, a maioria das peças eram de cúpulas plissadas e partiam desse método. Eu desenhava um croqui simples das formas que imaginava e tentava colocar em prática através de vários protótipos. Mas durante esse percurso, muitos dos protótipos “davam errado”, só que por vezes esse próprio “erro” levava a outras formas possíveis. Actualmente, com as peças mais recentes, estamos a tentar partir de outras técnicas. Por exemplo, a linha Aresta surgiu para dar uso ao material remanescente da nossa produção – amassamos o material e costuramos. A partir destes processos, pensamos em formas que sejam viáveis no processo de produção.
Como tem sido a aceitação e o que lhe têm dito sobre as mesmas?
A aceitação desde o início da marca foi muito boa, acho que não era fácil encontrar candeeiros translúcidos e feitos manualmente no mercado brasileiro. Para além disso, as peças têm uma presença escultórica acesas ou apagadas.
E como se desenvolveu o processo do papel até ao polipropileno?
No início da pesquisa as peças eram de papel, mas com a alta quantidade de vincos e também com a humidade, vimos que seria melhor procurar um material mais resistente, mas que transmitisse a luz da mesma forma agradável que o papel. Pesquisei inúmeros materiais – uma procura que não foi fácil, também porque estávamos numa fase de testes na produção e a marca era muito pequena, o que levou a que muitos dos fornecedores não me dessem muita atenção. Contudo, foi durante esse processo que encontrei o filme de polipropileno, que é de grande formato e possui uma resistência muito boa. Além de ser um filtro para luz muito bom.
O que podemos esperar num futuro próximo em termos de novos trabalhos?
Para os novos trabalhos, quero pensar ainda mais no aproveitamento de material, pensar no ciclo dessa matéria prima. Estou muito focada em gerar menos resíduos e produzir menos impacto no meio ambiente.