Por a 18 Março 2020

Fotografia: José Manuel Ferrão

Texto: Marta Lucena

Cómodas antigas e mesas rústicas, quadros solenes e caveiras, coisas partidas e rotas, cadeiras e castiçais, muita pintura por todo o lado…… caos ou tendência?

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Pouco convencional é o mínimo que se pode dizer deste andar que também funciona como atelier, num prédio de azulejos e numa zona cheia de vida em plena Lisboa. Sofia Aguiar e Tomás Colaço, são dois artistas pintores que apesar de passarem a vida de um lado para o outro, fizeram aqui o seu poiso há 12 anos. De vez em quando estão em Tânger, já viveram em Paris e no Rio de Janeiro, onde segundo eles, dividiam com outros artistas um atelier numa antiga fábrica de chocolates espectacular.

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São verdadeiros nómadas. Quando se mudaram para este seu pequeno mundo, fizeram algumas mudanças porque “era tudo muito escuro e fechado, as paredes tinham cores fortes como amarelo e verde, e existiam móveis a mais. Uns bons, outros maus, outros mais ou menos. Guardámos alguns, saíram outros e ainda entraram os que comprámos. Tirámos até algumas portas para deixar entrar a luz. Haviam imensos papeis, arquivos, tralhas. Mudámos toda a electricidade e pintámos tudo de branco. Em certas paredes deixámos os frescos originais que descobrimos debaixo das várias camadas de tinta. Mas manter todas as paredes com frescos, quando pintamos e trabalhamos em casa, pensámos que seria informação a mais que acaba por distrair”.

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A Sofia gosta sobretudo da circulação da casa. Por todo o lado o chão é de madeira antiga, tábua corrida com todo o passar dos anos bem estampado. Range e parece falar com quem lá vive. Não é uma casa que se descreva facilmente em termos de decoração. Mas é muito fácil dizer o quanto este espaço é realmente vivido e cheio de personalidade e de pormenores, onde as centenas de coisas convivem de forma nada estruturada. Duas cabeças nada convencionais gostam de mudar constantemente tudo o que têm em casa, de uma divisão para a outra, sem rigidez ou preconceitos. Cómodas e mesas rústicas, livros, porcelanas Companhia das Índias, quadros, bancos e cadeiras pintados e pufs feitos pelo dono da casa, castiçais, caixas e outros mil objectos provenientes de todos os sítios e épocas, contribuem para uma teatralidade muito própria.

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O Tomás estudou arquitectura e a Sofia Ciências Sociais e trabalhou em joalharia. Só depois veio a pintura. No caso da Sofia, gosta de esgotar um tema que ela diz ter a ver com um lado de coleccionador que vem desde criança. Agora pinta exaustivamente insectos e flores. São pequenos quadros com mosquitos, libelinhas, abelhas e aranhas com os quais forra paredes como a da casa de jantar, de onde se tem uma vista desafogada dos prédios vizinhos mas também do Tejo. O Tomás pinta cenários: “gosto de pintar como se fosse um filme. Normalmente é uma pintura que passa a três dimensões e que parte do espaço onde estou, mas também pinto em pequena escala”. Os dois gostam de viver neste emaranhado de divisões e coisas, onde tudo deixa de ser solene “gosto do retrato antigo da avó ao lado do vaso de coentros”.

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