Casa Módico é um projeto do Atelier Branco Arquitetura, concluído em 2019, com 300 m² de área construída, localizado no litoral de São Miguel do Gostoso, no nordeste do Brasil.
Fotografia: Federico Cairoli Projeto: Atelier Branco Arquitetura Via Archdaily Brasil
Sustentada pelos elementos mais leves da paisagem — o vento e as nuvens —, a casa nasce do desejo de criar uma resposta arquitetónica coerente com as tradições habitacionais locais. A influência do território e a relação direta com o vento orientaram o cliente e os arquitetos na conceção de uma construção que respeita a memória construtiva, adota soluções sustentáveis e propõe-se como referência para a antropologia cultural da paisagem.


Pensada como uma relação entre figura e fundo, a casa inscreve-se na paisagem de forma clara e essencial. Se a arquitetura é a disciplina da organização do espaço, aqui manifesta-se como uma composição em que a edificação — a figura — capta o olhar, enquanto a paisagem — o fundo — atua como acompanhamento, numa analogia próxima à distinção musical entre melodia e base harmónica.
Observada à distância, a construção destaca-se com precisão, sem se impor ao contexto natural.
A seção longitudinal do projeto revela a intenção de promover ventilação natural cruzada em todos os ambientes. As divisões internas entre áreas sociais e privadas são definidas por um jogo de tijolos que atua como filtro espacial e climático, permitindo a circulação constante do ar através de amplas aberturas laterais.
A experiência de habitar é marcada pela leveza, pelo ritmo do vento que atravessa os espaços e modela a arquitetura de forma quase coreografada.
A noção de leveza, frequentemente associada à dança, encontra aqui um paralelo arquitetónico entre liberdade e precisão. Assim como na dança, em que o gesto exige disciplina e rigor, a casa articula simplicidade formal com exatidão construtiva.


A precisão — simbolicamente evocada na história da arquitetura e da cultura — torna-se um valor central do projeto, traduzido na clareza das proporções, no rigor geométrico e na contenção dos elementos.
Devido às características topográficas do terreno, a resolução do projeto ocorre principalmente pela secção: dois volumes de forma arquitetónica idêntica assentam numa paisagem extremamente plana, elevada cerca de um metro acima do nível do mar.
Ao entrar na casa, a leitura inverte-se: a paisagem deixa de ser fundo e transforma-se em figura, com o oceano assumindo protagonismo visual. Para reforçar a ausência de hierarquia entre os lados, a planta é definida por uma simetria rigorosa.
Dois eixos principais organizam o espaço. O primeiro, perpendicular ao mar, conecta as áreas comuns e estabelece a sequência espacial da casa. O segundo, paralelo ao oceano, explora os recursos naturais para ventilação, funcionando tanto por efeito de sucção quanto como filtro ambiental.
Em cada área comum, quatro portas de diferentes dimensões marcam os percursos: a mais pequena funciona como entrada; duas portas idênticas abrem-se para o pátio interno, onde uma mesa de madeira de sete metros ocupa um dos lados; outra porta conduz à sala principal, definida por um único elemento — um sofá voltado para o mar. Uma grande abertura de 3 x 3 metros liga o interior ao deck de madeira, um mirante de 80 m² voltado para a praia.
Em torno desse sistema desenvolvem-se quatro quartos idênticos, independentes da sequência dos espaços comuns. Neles, a relação entre interior e exterior é mediada por paredes de ripas horizontais de madeira, que filtram a luz e o vento, suavizando a sua intensidade sem romper o vínculo com a paisagem.
O resultado é uma atmosfera mais íntima, em que os limites entre dentro e fora se tornam difusos. A simplicidade da forma e da paleta — paredes brancas, madeira natural e piso de cimento cinza — é fruto de um processo rigoroso, que exige maturidade, precisão e coragem para eliminar o excesso e alcançar o essencial. Aqui, simplicidade é clareza; clareza é elegância, honestidade e, em última instância, beleza moral.











