Por a 3 Dezembro 2025

Enraizada no cenário singular da Comporta, esta casa parece brotar da duna onde assenta. Estende-se em linhas horizontais, com janelas amplas que diluem a fronteira entre interior e exterior, deixando a natureza entrar sem esforço.

Texto: Ana Rita Sevilha; Fotografia: António Moutinho; Produção: Amparo Santa-Clara

Construída entre 2020 e 2022, resulta de uma leitura sensível do território e de um diálogo constante com o cenário envolvente. De um lado, o verde profundo dos pinhais; do outro, o horizonte aberto sobre os arrozais. As janelas contínuas moldam toda a fachada e criam uma relação direta com a natureza, permitindo banhos de luz dourada pela manhã e revelando o movimento subtil do campo ao longo do dia.

No interior, os 420 m² divididos entre amplas zonas sociais e cinco suítes seguem a mesma lógica de integração. O pé-direito de 3,5 metros, revestido a pinho nórdico, reforça a sensação de leveza e favorece a ventilação natural. A casa foi pensada para ser vivida ao ritmo da paisagem; nela, o silêncio convive com o som do vento, o chilrear das aves e o rumor distante do mar, tornando-se parte da experiência do lugar.

A paleta cromática reflete o território que a rodeia: verdes, brancos e negros evocam tanto a profundidade do pinhal como a luminosidade dos dias claros.

O mobiliário em madeira nobre, inteiramente concebido para este espaço, foi criado por artesãos portugueses, peça a peça, num trabalho minucioso que une tradição e contemporaneidade. Nada é supérfluo e cada elemento pertence à casa e ao contexto que a inspira.

O projeto ganhou força na colaboração de três criadoras portuguesas: Pilar Louro, responsável pelo design de interiores; Barbara Bliebernicht, pelo design exterior; e Nina Figueiredo, pela conceção dos jardins. Em conjunto, criaram um fio condutor que articula o dentro e o fora, a sombra e a luz, o construído e o natural.

A propriedade ocupa 2.900 m², com 650 m² distribuídos entre áreas interiores, terraços, varandas cobertas e espaços de estar ao ar livre. A madeira usada nos ripados e brises desempenha um papel estético e funcional, filtrando o sol, criando sombras e contribuindo para o conforto térmico. A casa inclui ainda um anexo com duas suítes, duas casas de banho e uma sala de estar, concebido segundo a mesma filosofia de integração na paisagem.

O que torna este refúgio especial não é apenas a sua beleza evidente em cada detalhe, mas a sua capacidade de oferecer amplitude sem excessos e conforto sem ostentação. Abre-se ao exterior com naturalidade, acolhe durante todo o ano e acompanha o ciclo das estações com serenidade, observando os arrozais transformarem-se ao longo dos meses.

Ainda jovem na sua história, esta casa revela-se como uma extensão natural da Comporta. Um cenário perfeito para se habitar devagar e colecionar histórias, memórias e a tranquilidade própria deste lugar único.