Em setembro de 2020, Andrew Trotter e Marcelo Martínez “tropeçaram” numa casa na zona de Puglia pela qual se apaixonaram perdidamente. Algumas voltas depois, conseguiram adquirir o pequeno palazzo e dar início a uma projeto de reabilitação – mais demorado do que o esperado – mas que deu origem à Casa Soleto, um refúgio autêntico que convida à experiência de viver uma glamorosa “vida de aldeia”.
Projeto: Studio Andrew Trotter + Marcelo Martínez / Fotografias: Salva López / segundo memória descritiva
A Casa Soleto oferece uma experiência verdadeiramente autêntica de “vida de aldeia” no coração de Salento, em Puglia. O nobre palazzotto foi cuidadosamente restaurado pelo Studio Andrew Trotter e por Marcelo Martínez. O processo de reabilitação foi conduzido com tempo e dedicação, de forma a preservar os elementos históricos da casa, trazendo-a simultaneamente para o século XXI. Mantendo grande parte dos pavimentos originais, a cozinha e as portas interiores (duas delas com trezentos anos), a Casa conserva todo o charme e carácter esperados de uma casa do século XVII.




A história, por Andrew Trotter
Tenho um passatempo — alguns diriam uma obsessão — mas um dos meus maiores prazeres é procurar casas online. Em setembro de 2020, tropecei numa casa numa localidade da qual nunca tinha ouvido falar. Normalmente, só as casas grandes no centro das vilas têm jardim, mas esta tinha a dimensão perfeita: cerca de 220 metros quadrados, com um pequeno pátio à frente e um jardim interior nas traseiras.


No início da nossa estadia de duas semanas em Puglia, ligámos ao agente. “Lamento imenso”, disse-nos ele, “a casa está sob proposta e não a posso mostrar.” Três dias depois, voltei a ligar. Continuava sob proposta. Insisti. Não queria que ele nos ligasse dali a três semanas, quando já tivéssemos deixado Puglia. Depois de muita insistência, conseguimos visitar a casa — e foi amor à primeira vista. Duas semanas mais tarde, recebemos a notícia de que a primeira proposta tinha caído, fizemos uma contraproposta e foi aceite.


A casa era encantadora. A fachada exibia todos os detalhes barrocos de um pequeno palazzo, e o interior parecia ter parado no tempo. Os quartos, com tetos altos e abobadados, estavam cheios de móveis, livros, roupas e velhas fotografias de família. A casa não era habitada há mais de vinte anos, mas dava a sensação de que bastaria um pouco de amor para podermos mudar-nos logo. Estávamos enganados.




Por causa da pandemia, demorámos mais de sete meses só para concluir a compra. E mais cinco meses até podermos começar as obras. Quando começámos a limpar a casa, percebemos que havia mais problemas do que imaginávamos. O teto de um dos quartos e da casa de banho precisava de ser substituído. A maioria das paredes inferiores tinha reboco de cimento, que retinha toda a humidade. O sistema de esgotos era basicamente um buraco no quintal, e havia apenas uma casa de banho para toda a casa. Tínhamos muito trabalho pela frente.


Partes da casa tinham mais de 400 anos. O compartimento atrás da cozinha teria sido uma capela em tempos, para que a família não precisasse de sair de casa para rezar. A casa era um verdadeiro labirinto — seria preciso atravessar o pátio da frente e subir uma escada exterior para chegar aos quartos. Mas é precisamente esse o encanto das casas antigas: não há uma única parede direita à vista.
A casa
Pelo portão, entra-se na casa através de um pátio — o lugar perfeito para tomar o pequeno-almoço ou jantar, já que não apanha sol direto. A partir desse pátio, encontra-se a sala de estar principal e uma cozinha totalmente equipada, com tudo o que é necessário para preparar uma boa refeição.








Atrás da cozinha, descobre-se o que outrora foi a antiga capela, agora transformada numa sala de media, com um sofá de quatro metros (que também pode ser convertido em duas camas individuais para hóspedes extra). Esta divisão dispõe de uma pequena casa de banho e de um duche exterior.


Ligada à sala de estar, encontra-se a majestosa sala de jantar, com outra pequena casa de banho e, do lado oposto, a garden room, com um sofá de três metros — o lugar ideal para relaxar e ler um livro. No exterior há um jardim com uma pequena piscina de imersão de 3×2 metros, perfeita para apanhar sol ou refrescar-se nos dias quentes. A maioria dos tetos do piso térreo tem cerca de cinco metros de altura.






O piso superior é acessível pela escada situada no pátio de entrada. Do lado direito da escada, entra-se no quarto verde, que conduz ao quarto principal voltado para a rua e para a igreja, com casa de banho privativa e um walk-in closet. Do outro lado do quarto verde encontra-se a ampla suite principal, com um terraço com vista para o jardim e uma espaçosa casa de banho equipada com uma antiga banheira de ferro fundido com pés em garra.







Do lado esquerdo da escada, entra-se noutro quarto grande, que conduz a uma pequena sala de estar com um sofá que se transforma em cama individual — ideal para uma criança. Atrás, encontra-se uma ampla casa de banho revestida a azulejo.






Colaborações
Como esta casa era tão especial, quisemos preservar o seu encanto mesmo ao trazê-la para os tempos modernos. Salvámos os pavimentos sempre que possível, bem como a cozinha. Aproveitámos o projeto para mostrar o nosso design e trabalhar com marcas que adoramos.







Colaborámos com a Domingue Finishes nas paredes. Produzem um dos estuques mais bonitos que já vimos — suave ao toque, mas cheio de textura. Escolhemos as cores em conjunto com a equipa, para que alguns espaços ficassem mais luminosos e outros ganhassem uma atmosfera mais intimista. A aplicação foi feita por Tullio Cardinale e a sua equipa — um verdadeiro prazer trabalhar com eles. Quando o estuque ficou pronto e os pavimentos limpos, pudemos concentrar-nos no estilo da casa.
Escolhemos torneiras e loiças de casa de banho de inspiração clássica da Valadares, pois não queríamos que a casa parecesse demasiado moderna. Mandámos restaurar todas as portas interiores e, para as exteriores, trabalhámos com a Alba Falegnameria, mestres carpinteiros de Lecce, que recriaram as peças de forma a parecerem originais da casa. Para a pequena casa de banho cor-de-rosa, encomendámos um lavatório personalizado à Arte Ippolito.



Colaborámos também com a Armadillo Rugs em toda a casa. Os seus belíssimos tapetes de juta dão um toque de suavidade aos pavimentos duros. Adoramos andar descalços no verão, e estes tapetes são perfeitos para isso. As cortinas e estofos em linho foram feitos pelo talentoso artesão local Paglia di Lino. Trabalhámos ainda com os nossos amigos da Frama para dar um toque moderno e simples.
Escolhemos peças de mobiliário antigo especiais, como uma mesa de jantar em nogueira do século XVIII, recuperada de um mosteiro em Abruzzo, e um guarda-roupa vermelho do final do século XVIII/início do XIX, proveniente da Lombardia — ambos encontrados na Le Icone, uma magnífica loja em Cisternino. A nossa bela mesa de trabalho e as duas consolas semicirculares vieram da La Mercanteria. O sofá, a poltrona e o puff da sala de estar são da By Blasco. A loiça foi desenhada especialmente para a casa pela nossa amiga, a chef Giorgia Eugenia Goggi, e produzida por Nicola Fasano. O fogão é da marca ILVE.



Grande parte das obras de arte já estava na casa quando a comprámos, exceto três belíssimas pinturas criadas especialmente para o espaço pela nossa amiga Eleanor Herbosch, jovem artista de Antuérpia. Para esta encomenda, enviámos-lhe três sacos de terra, recolhida de diferentes divisões da casa, que ela usou para criar as peças. Recebemos também duas obras do artista sueco Lucas Morten.


Foi uma experiência extraordinária e uma enorme aprendizagem trabalhar com tantos artesãos locais talentosos — todos muito orgulhosos por ajudar a restaurar e dar nova vida a uma das casas históricas da vila.