O projeto do arquiteto Gabriel Magalhães, no âmbito da CASACOR Bahia 2025, foi o grande vencedor da edição deste ano. Nomeado pela equipa da Urbana, presente na mostra, reúne em 73 m² história, arte e ousadia num só espaço.
Projeto: Gabriel Magalhães / Fotografia: MCA Studio / Texto: isabel Pilar de Figueiredo
Ao restaurar um imóvel com mais de 300 anos, a proposta era clara: criar uma casa contemporânea, sem apagar as marcas do tempo. O resultado é um loft de 73 m², pensado para uma artista de 42 anos apaixonada por espaços abertos, viagens e vida urbana. “Queríamos um lugar que respeitasse o existente, mas que também nos acolhesse hoje, com liberdade e leveza”, revela o arquiteto Gabriel Magalhães. A casa, que serve como residência principal, é um loft de estilo contemporâneo, onde cada centímetro carrega intenção e memória.

O ponto de partida do projeto foi “preservar as características físicas originais do edifício, como as paredes descascadas, o piso de madeira e as vigas aparentes, adaptando-o a uma vida contemporânea”. A inspiração foi o próprio tempo, diz o arquiteto responsável. “Ao retirar o forro e revelar as vigas a 4,40 metros de altura, ou ao descascar a parede da sala até encontrar as camadas da história, fomos estabelecendo esse diálogo direto entre o ontem e o agora.”


O projeto eliminou paredes antigas e integrou o que antes eram três espaços isolados, criando uma área aberta, fluida, dividida em três setores principais: sala, cozinha e quarto com casa de banho.
Logo na entrada, um gesto ousado: um volume curvo em tom ferrugem, que rompe com a linearidade da planta e abriga um vestíbulo. É também o verso dessa estrutura que forma uma das paredes do WC, uma parede curva que abraça o banho com estética de spa. “É quase como um casulo de serenidade no meio da cidade”, define Gabriel.


A sala é um capítulo à parte. O piso bicolor e o teto com vigas originais servem de base à composição de arte e design. Um sofá de veludo rosa contrasta com a parede descascada que agora serve de galeria para obras com curadoria. No canto oposto, uma mesa de trabalho embutida em madeira estende-se até envolver a icónica poltrona Cuca, de Zanine Caldas, iluminada pela luminária articulada Mantis BS2.

A cozinha mantém o piso original de madeira em dois tons, reforçando o diálogo com o mobiliário: ao fundo, um armário de madeira clara; no centro, uma ilha de madeira escura com bancada em aço inox e uma imponente luminária desenhada sob medida pelo arquiteto. Nas paredes, obras de Claudia Andujar, Maureen Bisilliat e Fátima Tosca reiteram o caráter artístico da casa.


O quarto, mais elevado graças à estrutura original, é acedido por um degrau feito a partir de uma das antigas vigas do edifício. Aqui, as divisórias têxteis criam privacidade e acolhimento e o papel de parede com padrão de colagem e um cabide desenhado exclusivamente para o espaço completam o ambiente.



A iluminação do loft valoriza as estruturas originais. Os perfis lineares foram instalados sobre as vigas, criando uma iluminação indireta que percorre sala e cozinha. Pontualmente, luminárias decorativas complementam o projeto nos ambientes de estar e home office, sem competir com a arquitetura. Além do reaproveitamento dos materiais utilizados, o projeto aposta numa paleta suave para equilibrar o peso visual das estruturas expostas: madeiras escuras, estofados em rosa e azul, volumes em tons terrosos e texturas diversas, tudo em prol de uma harmonia sofisticada e convidativa.


Esta sensibilidade destaca o trabalho do arquiteto que, salienta, teve cuidados extras. ao intervir num imóvel com 300 anos: “Cada detalhe exige uma atenção redobrada para que a estrutura seja preservada e respeitada.” Mas o resultado é intemporal e fala por si: o passado é celebrado com honestidade e o presente é vivido com liberdade