Por a 24 Setembro 2025

Assinado pelo designer de interiores brasileiro Alex Ruas, este apartamento de 227m², situado num edifício pombalino do século XVIII, em Lisboa, revela um equilíbrio sofisticado entre a monumentalidade da arquitetura histórica e uma linguagem contemporânea de traços brutos, quase primitivos. 

Projeto: Alex Ruas / Fotografias: Gui Morelli / Texto: Isabel Pilar de Figueiredo / Produção: Amparo Santa-Clara e Pedro Fleury

Trata-se da residência principal de um colecionador de arte e designer de interiores, viajado e exigente, cujo gosto apurado ditou um desafio: suavizar e tornar leve um espaço carregado de herança estética, sem prejuízo da sua identidade.

O ponto de partida foi respeitar a arquitetura original do imóvel, embora tenha sido alvo de uma obra de redesign integral e do restauro dos frescos e dos azulejos originais. Estruturalmente, o projeto exigiu intervenções de maior escala, como a fusão de duas unidades autónomas num único apartamento fluido e coeso.

O estilo predominante é o monolítico, com referências ao design ‘raw’ e primitivo, traduzido em peças de mobiliário escultóricas e materiais nobres, de textura quase táctil. “A ideia foi criar um contraste subtil, entre a opulência colorida do passado e a contenção contemporânea do presente, que respeitasse a herança patrimonial do lugar — casa-galeria, refúgio e manifesto estético”.

A paleta de cores é neutra, sólida, sem distrações, permitindo que a arte, a luz natural e os materiais falem por si. Mármores Volakas e Calacatta Viola, metais escovados e tecidos naturais convivem com mobiliário de marcas internacionais de topo e peças feitas por medida, muitas delas fornecidas pelo Armazém de Arquitectura, que também se ocupou das cortinas e detalhes de acabamento.

O coração social da casa é a sala de estar, ampla e escultural. Sofás, poltronas e mesa de centro da Henge, combinados com um aparador e mesas laterais da Baxter, dão o tom elegante e cru do espaço. A iluminação foi pensada para criar camadas: é o caso do pendente tubular da Morghen Studio, da luminária de chão da Baxter, mas também do uso de sancas e focos embutidos, parte integrante do existente. Destinado a encontros mais informais, o aparador assume um ar sofisticado com o tapete Ferreira de Sá, o banco Henge e a cadeira Baxter, além das mesas laterais Gallotti&Radice e de um banco Ceccotti, reforçando o design europeu contemporâneo de qualidade.

A zona de jantar mantém o mesmo rigor visual, com cadeiras Maxalto, mesa Baxter, aparador feito por medida e o destaque cenográfico do candeeiro de suspensão da Morghen Studio.

Pequeno no tamanho, mas impactante na execução, o lavabo apresenta equipamentos Gessi e uma elegante luminária da Apparatus Studio, reforçando a linguagem escultórica do projeto.

Na área destinada ao descanso, as duas suítes de hóspedes seguem o mesmo vocabulário: tapetes Ferreira de Sá, mesas de cabeceira Audo Copenhagen e uma atmosfera limpa, onde o conforto encontra o silêncio visual.

A suíte principal, por seu turno, é um manifesto de equilíbrio entre função e estética: tapete Ferreira de Sá, cabeceira e gaveteiro sob medida, par de mesas de cabeceira Poliform, escrivaninha e cadeira Ceccotti Collezioni, além de um banco da Baxter dialogam em harmonia. A iluminação é marcada por um lustre da Henge e um segundo pendente da Apparatus Studio, ambos escolhidos pela sua capacidade de gerar atmosfera sem excesso. Revestida em mármore Volakas e equipada pela Gessi, a casa de banho da suíte principal prossegue o discurso entre o minimalismo sofisticado e a materialidade rica.

Toda a iluminação do projeto foi pensada com precisão cirúrgica. As estruturas originais de focos e sancas iluminadas foram preservadas, garantindo funcionalidade e coerência com o prédio histórico. Os pontos de luz decorativos – como os pendentes Apparatus Studio e Morghen Studio – foram cuidadosamente integrados para criar ambientes acolhedores e cenográficos, sem interferir com a sobriedade do conjunto.


“Este é um projeto onde nada foi deixado ao acaso”. Dos materiais selecionados, até à relação entre arte, espaço e tempo, a casa reflete a identidade do seu proprietário e o olhar arquitetónico maduro de Alex Ruas. Não houve dificuldades técnicas – apenas a tarefa, elegantemente cumprida, de criar algo singular num espaço com voz própria.

A curadoria de obras de arte ficou a cargo do próprio Alex: “Sou um apaixonado por arte contemporânea, por isso muitas das peças da minha coleção estão aqui, distribuídas ao longo da casa”. Nesta casa, a alma lisboeta pombalina é revivida com traços modernos, com subtileza, bom senso e sensibilidade.