Por a 26 Agosto 2025

Implantada numa faixa estreita a poucos minutos a pé da praia, a Casa Plaj é uma residência de férias com uma forma radicalmente simples. O projeto é assinado pelo coletivo extrastudio e as fotografias são da autoria de Clemens Poloczek.

Projeto: extrastudio / Fotografias: Clemens Poloczek / segundo memória descritiva

Durante uma viagem por Portugal, um casal encontrou, quase por acaso, um pequeno terreno à venda junto ao mar, a norte de Lisboa. Em plena Lourinhã — região marcada por pomares, mas também pela proximidade a Ericeira e Peniche, dois ícones do surf mundial — o lote estreito e inclinado oferecia algo raro: vistas abertas sobre o Atlântico, o vale e a aldeia ao longe, a apenas cinco minutos a pé da praia.

Foi neste cenário que nasceu a ideia de uma casa de férias que fosse simultaneamente simples e ousada: um refúgio generoso, despretensioso, em sintonia com a paisagem, mas também espaço para experimentação arquitetónica.

O projeto parte de uma forma radicalmente pura. Sobre um pódio em cruz, suportado por quatro paredes estruturais, a casa parece flutuar sobre o terreno. O contacto com o solo é mínimo — apenas no ponto de entrada — libertando os restantes lados para uma sucessão de terraços suspensos, que prolongam o interior para o exterior e garantem a cada divisão a sua própria zona de contemplação.

No centro, um pátio a céu aberto organiza a chegada. Num único piso, cozinha, sala de jantar e sala de estar partilham um espaço amplo e luminoso, aberto simetricamente a norte, este e oeste, enquanto os três quartos se voltam a sul. Apesar da área limitada a 120 m², a sensação é de grandeza: a altura do volume, claraboias e óculos estrategicamente colocados transformam a luz num elemento protagonista. Durante parte do ano, ao entardecer, um feixe solar percorre cada divisão, atingindo o auge nos solstícios de verão e inverno — uma espécie de relógio natural que marca o tempo da casa.

A arquitetura aposta na flexibilidade e na informalidade. As janelas recolhem totalmente para dentro das paredes, dissolvendo os limites e transformando o interior num espaço aberto ao exterior, onde até um banho pode ser vivido sob o céu.

O processo de construção foi também uma experiência partilhada. Clientes, arquiteto e construtor trabalharam lado a lado, deixando espaço para o acaso e para os saberes de quem estava no terreno. As paredes rebocadas a cinzento ficaram intencionalmente nuas, criando um interior monocromático, pontuado por detalhes inesperados: uma porta em vidro vermelho, nichos abertos à medida, a escolha de mármores e travertino que dialogam com a luz. O exterior, pensado para ser neutro, acabou por ganhar cor — fruto do próprio processo vivo da obra.

Lá fora, uma piscina alongada acompanha a linha do mar entre pinheiros-bravos. A paisagem manteve-se quase intocada: todas as árvores foram preservadas e novas árvores de fruto plantadas nas encostas, reforçando o carácter agrícola da região. Convidados a habitar a casa depois da sua conclusão, os arquitetos encontraram uma atmosfera de serenidade: o som das ondas a rebentar na praia, vozes longínquas do vale, o coaxar de rãs e o trinar de aves noturnas. Uma arquitetura que não impõe, mas respira com a paisagem — um lugar onde o tempo abranda e a simplicidade se transforma em luxo.