Madeira, pedra e vidro convivem com detalhes artesanais, nesta moradia no meio de um pinhal. O projeto que assentou numa arquitectura silenciosa – onde a precisão dos gestos constroi uma relação duradoura entre espaço, uso e contexto -, é assinado por João Tiago Aguiar. A reportagem fotográfica é de Francisco Nogueira.
Arquitetura: João Tiago Aguiar / Fotografias: Francisco Nogueira / segundo memória descritiva
Inserida num denso pinhal, a reabilitação desta moradia procurou dissolver os limites entre o interior e o exterior, promovendo uma relação mais profunda com a natureza e com a luz. A intervenção foi guiada por uma vontade de clareza, contenção e intemporalidade; qualidades que se revelam subtilmente na forma como o espaço se desdobra e os materiais se articulam. A essência do projecto reside no equilíbrio: entre sombra e luz, cheio e vazio, abrigo e abertura.

Uma das decisões centrais foi a relocalização da escada. A estrutura original, demasiado grande, invadia a sala de estar e comprometia a fluidez do espaço. Ao transferi-la para o hall de entrada (antes sobredimensionado) ganhou-se área útil e criou-se um vazio com duplo pé-direito, inundado de luz natural. Um gesto escultórico é introduzido com dois primeiros degraus em pedra, soltos da parede e do restante lanço, quase como elementos autónomos e como uma peça escultórica. A escada continua depois em madeira, integrando arrumação discreta por baixo e unindo funcionalidade com clareza espacial.




Para viabilizar esta nova ligação vertical, as duas grandes instalações sanitárias do piso superior foram redesenhadas em versões mais pequenas, permitindo o vazio vertical e melhorando a organização geral. A guarda do mezanino foi também substituída por um novo elemento que funciona como estante; simultaneamente prático e poético.



A lareira foi inteiramente repensada: a antiga em pedra com chaminé visível deu lugar a uma parede em chapa metálica cinzenta-escura, interrompida apenas por uma abertura que acolhe o fogo: um gesto elementar e abstracto. Na fachada voltada para o jardim, amplos vãos de sacada aproximam a casa da paisagem e deixam entrar a luz.




Outras alterações otimizaram a vivência quotidiana: a antiga instalação sanitária da empregada tornou-se um lavabo social ao inverter o acesso, e a antiga instalação sanitária social de apoio à cozinha foi transformada em instalação sanitária da master suite. A pérgula foi redesenhada e prolonga agora esta suite, criando um espaço exterior resguardado e sombreado, com aberturas laterais que filtram a luz e diluem o volume.





O exterior foi também profundamente intervencionado. A piscina, anteriormente em forma orgânica que mais se assemelhava a um feijão, foi redesenhada como um volume retangular para repouso e banhos de sol. O seu interior e envolvente foram revestidos com azulejos artesanais em terracota verde garrafa, fundindo-se com o relvado e o pinhal.

O anexo foi redesenhado com três volumes mais leves. As entradas foram recuadas e assinaladas com vidro opalino, fragmentando o volume e sugerindo diferentes usos: lavandaria, arrumos e áreas técnicas. Este ritmo repete-se na nova pérgula, com interrupções laterais que reduzem o impacto visual e permitem a entrada da luz.