Por a 21 Fevereiro 2025

Mónica Parreira assina o projeto de remodelação de interiores de um edifício construído no início do século XX, originalmente uma casa de vitivinicultor, onde o piso inferior funcionava como adega e o superior servia de residência para a família.  

Design de interiores: Mónica Parreira / Texto: Isabel Figueiredo / Fotografias: Ricardo Oliveira Alves

A sua configuração refletia a atividade vitivinícola característica de Borba, incorporando elementos típicos da arquitetura alentejana como paredes de taipa e um poço meeiro. “O edifício passou por um processo de reabilitação e decoração que durou cerca de um ano e foi concluído em agosto de 2024”, conta-nos Mónica Parreira, a designer de interiores que assina o projeto.

“Durante este período, dedicámo-nos intensamente a preservar a história do edifício, ao mesmo tempo que o adaptávamos às exigências contemporâneas”. Durante a reabilitação, optou-se por dividir o edifício original em duas habitações independentes, visando criar espaços que atendessem melhor às novas exigências e à funcionalidade adaptada aos nossos dias. “A casa de cima foi concebida como um amplo duplex que maximiza a luminosidade natural e a amplitude dos espaços. Com uma organização interna que privilegia espaços abertos e integrados, esta habitação oferece um ambiente moderno e confortável, ideal para o estilo de vida atual”. Por seu turno, a casa de baixo, com 2 quartos, apresenta um ‘open space’ que integra a sala de estar, de jantar e a cozinha. No exterior, dispõe de um pátio com área de refeições, um jardim com piscina e uma cozinha exterior, que era a antiga cozinha de fumeiro. 

“Esta divisão permitiu criar duas habitações autónomas que respeitam a arquitetura original do edifício, preservando elementos históricos enquanto oferecem conforto e funcionalidade modernos”. Na casa de cima, a que diz respeito a esta reportagem, e apesar da generosa área de 146m2, optou-se por criar um T2 duplex, organizado da seguinte forma: Piso principal, com um hall de entrada espaçoso com elementos decorativos únicos, como a bancada de carpinteiro transformada em consola e uma canga de bois restaurada de 1924. Um ‘open space’ de aproximadamente 50 m² integra a sala de estar, sala de jantar e cozinha, criando uma área social ampla e luminosa. Este piso inclui ainda um quarto duplo com closet e varanda, uma casa de banho comum e uma lavandaria totalmente equipada. No sótão, ao qual se acede através de uma escadaria com instalação artística de cabos que servem de guarda-corpo, aloja-se uma suíte privada. “Este espaço intimista combina quarto, casa de banho e closet, num ambiente acolhedor e sofisticado”.

O ‘open space’ do piso principal dá acesso a um pátio exterior acolhedor, “ideal para momentos de tranquilidade ou refeições ao ar livre”. Este espaço foi concebido para proporcionar uma ligação serena com o ambiente alentejano, preservando a privacidade e o conforto dos moradores. 
A reabilitação do edifício foi conduzida com um profundo respeito pela sua história, procurando preservar a sua essência, muito embora tenha sido adaptado às exigências atuais de conforto e funcionalidade. “Mantivemos, sempre que possível, os materiais e técnicas construtivas tradicionais, como as paredes de taipa, as escadas em mármore e o poço meeiro, elementos que conferem autenticidade ao espaço”. 

Colaborar com equipas locais, diz-nos Mónica Parreira, foi fundamental para superar os desafios inerentes à reabilitação de construções antigas. “Reorganizámos os interiores para criar espaços abertos, luminosos e fluídos, alinhados com o estilo de vida contemporâneo. Demos especial atenção ao isolamento térmico, essencial numa região com variações climáticas extremas, garantindo conforto durante todo o ano sem comprometer a estética”. 

Além das melhorias estruturais, a casa foi totalmente equipada para oferecer uma experiência habitacional completa. Cada detalhe foi pensado no conceito “chave-na-mão”, desde o mobiliário selecionado com cuidado até aos eletrodomésticos modernos, ar-condicionado, roupa de cama e banho, serviços de mesa e utensílios de cozinha. “O objetivo foi que a casa estivesse pronta para habitar imediatamente, sem necessidade de preparações adicionais”. 

Em linha com este conceito, a decoração da casa foi minuciosamente planeada para narrar a história do Alentejo, destacando a autenticidade das suas tradições e uma simplicidade que é simultaneamente sofisticada. Inspirada no conceito wabi-sabi, celebra a beleza da imperfeição e o encanto do natural e intemporal, refletindo um estado de espírito que valoriza a serenidade, a harmonia e o conforto em cada detalhe.

“Optámos por uma paleta de cores neutras e terrosas, que evocam a paisagem alentejana e criam uma base adaptável ao espaço, permitindo que materiais naturais — como madeira e fibras — se destaquem”. O chão em microcimento bege oferece continuidade visual e uma luminosidade adicional, enquanto as paredes estucadas adicionam textura e calor ao ambiente. Cada peça de mobiliário foi selecionada ou concebida com um propósito específico: “Na sala de estar, um sofá em betão simboliza a fusão entre tradição e modernidade, enquanto a mesa de centro, feita com sulipas de madeira da antiga Linha do Tua, introduz um toque histórico num espaço funcional. Candeeiros em fibras naturais, distribuídos pelos diferentes ambientes, reforçam a ligação ao artesanato regional”. 

Complementando o mobiliário, todas as divisões foram enriquecidas com objetos que conferem vida e personalidade ao espaço. Desde cerâmicas artesanais a uma canga de bois restaurada de 1924 e as portas originais como peças decorativas, cada elemento foi escolhido para criar um ambiente visualmente agradável e emocionalmente reconfortante. “Estas peças são testemunhos do cuidado dedicado a cada pormenor”. 

A decoração vai além da estética, procurando criar um espaço completamente pronto para viver, sem faltar nada. Por isso, a casa foi decorada “ao talher”: equipada com roupa de cama e banho de alta qualidade, utensílios de cozinha, serviços de mesa e todos os eletrodomésticos necessários. Este nível de detalhe assegura que o novo proprietário possa simplesmente abrir a porta e começar a viver, sem preocupações adicionais. 

“A decoração reflete a essência do projeto: um espaço onde o passado e o presente se encontram, onde a autenticidade se une ao conforto e onde a funcionalidade não compromete a beleza. Cada detalhe conta uma história e convida a uma experiência única no coração do Alentejo”.