Por a 7 Maio 2024

O apartamento de 150m2, em Mitte, Berlim, é a casa do arquiteto e designer francês Xavier Charvet e da sua família. O estilo descontraído e sofisticado, assim como a sua paixão pela simplicidade e luxo, transversal a todos os seus projetos, estão aqui bem refletidos.

Produção e Fotografia: Anne-Catherine Scoffoni / segundo a memória descritiva

Localizado no centro de Berlim, o apartamento apresenta um amplo terraço ao ar livre, tetos altos, uma paleta elegante de cores e a mistura eclética de mobiliário, resultando num oásis único e sereno no coração da cidade. Xavier Charvet, arquiteto, não receia os desafios quando se trata de seguir a sua paixão. Nascido em Paris, Xavier estudou arquitetura na École Nationale d’Architecture de Paris Malaquais. Durante os estudos, passou um ano em Sydney e depois um outro em Londres. Fundou o primeiro estúdio em Paris, logo a seguir ao curso, mas decidiu mudar-se para Berlim anos mais tarde, onde, em 2015, fundou o escritório de arquitetura ao lado da mulher, Coline: o Studio Charvet.

“Temos projetos residenciais em andamento tanto no Reino Unido como em Berlim”, explica. “Assim como duas casas de praia na Riviera Francesa. O próximo projeto será um restaurante em L.A. e depois um café francês em Berlim.”

Apaixonado pelo que faz, o arquiteto supervisiona os planos arquitetónicos e o design de interiores, mas vai mais além, selecionando cada espaço com peças de mobiliário da sua própria coleção, que apresenta, principalmente, objetos e móveis vintage e escandinavos (dois estilos que falam ao coração de Xavier). Também inclui peças únicas que o arquiteto projetou.

“Desenhamos e projetamos a maioria dos nossos móveis”, diz Xavier. “Estas peças estão disponíveis sob medida, para os nossos clientes, embora estejamos a explorar a possibilidade de editar algumas delas… esse será o próximo passo.”

Fã do design holístico, Xavier prefere formas e temas específicos, que trabalha consistentemente, muitas vezes usando-os várias vezes na mesma área para alcançar uma aparência coesa e sem esforço. “Adoro formas geométricas”, explica. “E, acima de tudo, esferas, que aliás estão sempre muito presentes nos nossos projetos. Às vezes, são apenas um detalhe, como os pés de uma gaveta, noutros casos funcionam como peça central da composição. Mas também gosto quando os desenhos se referem à natureza através dos seus materiais, como madeira ou pedra. Formas suaves, redondas e naturais combinadas com modernismo quadrado estrito é do que mais gosto.”

Em nenhum outro lugar este amor por formas suaves, orgânicas e redondas é mais evidente do que na sua própria casa. Localizado na fronteira entre Berlim Mitte e Prenzlauer Berg, o apartamento-loft de 150m2, num edifício recém-construído, aloja a família composta pelo arquiteto, a mulher Coline, Gabriel, o filho de oito anos e o simpático Pomeranian Nano. É um espaço que fala de volumes, da estética pessoal e do estilo característico, que o designer descreve como ‘chique descontraído’, mas também da sua paixão em começar do zero e reimaginar completamente um espaço (um processo que levou um total de dois anos desde a compra até à conclusão do apartamento).

“Fomos os primeiros a mudarmo-nos para este novo condomínio”, diz Xavier. “Mas como tudo estava num nível tão inicial, conseguimos alterar e reorganizar todo o layout para termos uma casa que reflete o nosso estilo. Foi um trabalho conjunto, meu, enquanto designer de interiores, e do projetista, e aqui, sim, pude escolher e fazer-me rodear dos objetos que mais me dizem: móveis vintage, muitos livros e materiais robustos e bonitos, como a madeira.”

Com tetos altos, a luz natural é abundante — um dos fatores decisivos para a decisão da compra, em 2012 —, o que permitiu ao casal experimentar uma paleta de cores claras e escuras, criando contrastes dramáticos entre as divisões. Era ainda crucial para os Charvet terem uma grande área central onde pudessem receber amigos e familiares e ainda ter espaços separados para leitura e refeições. O resultado? Uma sala de estar e jantar partilhada, espaçosa e arejada, com uma biblioteca sob medida e janelas do chão ao teto, bem como portas de vidro amplas que se abrem para um terraço coberto.

“Escolhemos morar neste condomínio em boa parte devido à sua lindíssima arquitetura contemporânea e aos enormes espaços ao ar livre”, explica o arquiteto. “A arquitetura curva dá uma aparência única ao prédio de sete andares e o grande terraço tem vista para o jardim. É o nosso oásis verde na cidade. O clima continental de Berlim (seis meses de inverno frio, seis meses de verão quente) permite-nos desfrutar dele durante a maior parte do ano, expandindo o espaço utilizável do apartamento. No verão, fazemos tudo lá fora, do pequeno-almoço ao jantar.”

Com uma parede externa suavemente curvada, a sala de estar/jantar exibe uma paleta de cores neutras, muita madeira natural, incluindo tábuas de madeira polida, e é dividida em diferentes zonas, cada uma definida por móveis colocados estrategicamente, com iluminação específica. Um tapete branco e grande, em formato circular, projetado por Xavier em parceria com a The Rug Company, define a área da sala de estar e complementa a estrutura geral do espaço.

“Um tapete quadrado teria parecido estranho, mas este encaixa-se perfeitamente na sala”, diz o arquiteto, sobre a peça. “É de lã pura, feito à mão no Nepal e é inspirado num dos meus arquitetos favoritos, o modernista americano John Lautner. Combinei-o com a minha coleção de móveis vintage escandinavos dos meados do século passado: cadeiras e sofá Hans Wegner que encontrei numa loja vintage em Bruxelas e duas cadeiras safari em pau-rosa de Erik Wørts.”

A biblioteca também foi desenhada por Xavier. Funciona como um recanto separado na grande sala, mas também unifica o espaço com o corredor, atrás, graças à harmonia de materiais e cores. A escala da estrutura da biblioteca e a força do pau-rosa, de que é feita, são equilibradas pelas cortinas elegantes, do chão ao teto, penduradas ao redor da sala, que suavizam toda a atmosfera. Feitas de linho e tingidas num tom indefinido, entre o cinza-azulado e o verde, as cortinas adicionam conforto e são como um bónus adicional: “É tão bom ver a sua cor mudar com o sol.”

Encaixada ao lado da sala principal, a área de jantar apresenta uma mesa de artesão, antiga, que o casal encontrou na Normandia, um banco longo projetado pelo Studio Charvet e cadeiras de pau-rosa encontradas em Les Puces, Paris, do designer dinamarquês Kai Kristiansen. Os três lustres idênticos que pendem sobre a mesa são vintage, Vilhelm Lauritzen para a Louis Poulsen, e complementam a luminária dourado sobre a mesa de centro. Ao lado da parede das janelas de vidro inteiras fica a cozinha, um pequeno recanto acolhedor revestido de armários azul meia-noite feitos sob medida e preenchido com móveis da Bulthaup, além de uma mesa que foi projetada por Xavier e Coline, com uma base adquirida num mercado local. Projetada num estilo minimalista, Xavier reduziu a cozinha original ao máximo possível, deixando apenas o metal das janelas de sacada (algo que o arquiteto diz ser de alta qualidade) para criar uma cozinha prática e funcional num espaço tão pequeno —a enorme janela permite a entrada de muita luz e o uso de acessórios brilhantes e obras de arte gráficas adicionam toques de cor.

“As peças de acessórios da Le Creuset são tão bonitas!”, diz o nosso interlocutor. “Estão sempre expostas, o que é prático, já que cozinhamos muito comida francesa”.

Assim como na cozinha, a arte desempenha um papel essencial na casa Charvet. O móvel na sala de estar, tal como a maioria das cerâmicas espalhadas pela casa, é do artista sediado em Berlim Inka Erde, um dos vários que Xavier recomenda. Duas pinturas na sala principal são de outros artistas que ele igualmente admira. “A pintura na sala de jantar é de Juan Valencia, um pintor e escultor americano de Los Angeles, e foi feita com uma tinta para automóvel, brilhante. A obra grande, na sala de estar, é um óleo sobre tela de Anna Pajak, uma jovem pintora sueca. Ambas refletem o regresso do retrato na pintura contemporânea ­— este é o novo estilo figurativo que eu adoro e coleciono, bem como a arte abstrata.”

Obras de arte gráficas em preto e branco no quarto principal adicionam interesse a uma paleta de cores minimalista. No escritório, o tríptico em ouro e preto ajuda a unir uma seleção de cores aparentemente díspar.

“Algumas combinações de cores extravagantes acontecem por acaso, como no último espaço que fizemos, o escritório”, revela Xavier. “Dou grande atenção à harmonia cromática e, geralmente, sou muito difícil de agradar no que toca à combinação de cores, mas esta, com o azul profundo em união com o chocolate e rosa-pó suave, funcionou na perfeição! Fica muito bem numa divisão, que está virada a o norte e que não tem muita luz natural. Os tons de rosa ‘acordam’ o espaço quanto baste.”

As escolhas intuitivas de cores tornam esta casa serena, um pequeno luxo enaltecido pela qualidade do espaço e a generosidade do design. Quanto à sofisticação do lauyout, deve-se à “adequação entre os materiais escolhidos e o design, e à adequação entre o design e o estilo de vida. Quero dizer, não vale a pena fazer uma biblioteca se não gostar de colecionar livros…”.

O apartamento é ideal para quem ali habita e é revelador do amor dos proprietários pela mão de obra delicada e a paixão por design de renome. Alguns espaços são sombrios e dramáticos, alguns são calmos e pacíficos; há combinações de cores surpreendentes e uma variedade eclética de móveis, mas todos os elementos se misturam e dialogam sob o mesmo teto. Como todos os projetos de Xavier, a sua casa é prova de que simplicidade, luxo e elegância podem ter o mesmo objetivo: beleza e serenidade.

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