Por a 10 Dezembro 2025

Com uma fachada totalmente exposta e um interior reduzido ao essencial, o novo Lupita em Alvalade eleva a cozinha a espectáculo, num projecto assinado pelo XXXI.studio.

Projeto: XXXI.studio / Fotografia: Francisco Nogueira / segundo memória descritiva

Conhecido pela sua pizza napolitana autêntica, o Lupita inaugurou em Alvalade um espaço que redefine a forma como um restaurante pode relacionar-se com a rua e com quem o frequenta. O projecto, assinado pelo XXXI.studio, vai além da função e transforma a experiência de restauração numa coreografia visível.

Partindo dos princípios que caracterizam o estúdio — conservação, adaptabilidade e uma profunda atenção ao carácter pré-existente —, o novo espaço aposta numa arquitectura capaz de sobreviver a vários ciclos de vida. Onde existiam elementos originais, estes foram valorizados; onde não existiam, o estúdio recriou a sensação de uma beleza que sempre ali esteve. Esta abordagem, simultaneamente poética e pragmática, permite que o restaurante seja facilmente apropriado por futuros ocupantes, sem recorrer a alterações estruturais, deixando que a identidade se construa sobretudo por meio de peças móveis.

Mas é na operação — e na forma como esta molda o espaço — que o projecto encontra a sua expressão mais vincada. Perante a exigência de uma produção intensa, o XXXI.studio desenhou um layout que privilegia fluxos de trabalho, eficiência e controlo visual. A aquisição da loja vizinha permitiu criar uma “fábrica” dedicada à pré-produção e ao armazenamento, libertando a área principal para aquilo que realmente importa: a relação directa com o cliente.

No interior, a narrativa constrói-se através da simplicidade absoluta. Balcões de produção em aço inoxidável surgem como protagonistas, dispostos com rigor funcional, deixando a sala praticamente despida de elementos supérfluos. A contenção no número de lugares — reduzida a mesas e bancos em inox colocados no exterior — reforça o carácter performativo da cozinha: aqui, fazer pizza é um acto público.

A abertura total da fachada é talvez o gesto mais contundente do projecto. Numa rua marcada por lojas convencionais, a Lupita emerge como uma espécie de caixa-cénica aberta para a cidade. Ao abdicar de sinalética tradicional, o espaço torna-se ele próprio o anúncio: um cenário iluminado, integralmente exposto ao passeio, onde a produção se desenrola em tempo real. Como descreve Carlos Aragão, co-fundador do estúdio, “o resto da rua tem lojas — isto é um teatro”.

O resultado é um restaurante que não se limita a servir comida. É uma peça arquitectónica que demonstra como o design pode melhorar operações, criar transparência e construir uma narrativa de marca inteiramente baseada na autenticidade.