Filipe Pina desenhou um conjunto de abrigos que renascem da tradição das choças dos pastores na Serra da Esperança, revelando uma arquitectura que se dissolve na paisagem.
Projeto: Filipe Pina Arquitectura / Fotografias: Ivo Tavares Studio / segundo memória descritiva
Integrados no empreendimento The Vagar Country House, em Belmonte, os novos Abrigos de Montanha nascem de um desafio claro: criar um objecto arquitectónico que evocasse o imaginário das tradicionais choças dos pastores, respeitando a força bruta e indomada de um território com quase 250 hectares. O resultado é um gesto contemporâneo que honra a memória rural, enquanto reforça o compromisso com a paisagem e a sustentabilidade.




Implantados em três pontos estratégicos da Serra da Esperança, estes abrigos foram pensados para valorizar o património ecológico e paisagístico da região. A inspiração vem directamente das construções vernaculares dos pastores — as emblemáticas “Choças” — reinterpretadas aqui através de uma linguagem formal, conceptual e construtiva profundamente enraizada no local.



Dissimulados entre a vegetação autóctone e os afloramentos rochosos, os volumes orientam-se para o vale da Cova da Beira, revelando uma vista privilegiada para a Serra da Estrela. A sua implantação respeita o perfil topográfico da serra e procura amplificar a riqueza natural envolvente, oferecendo aos visitantes momentos de contemplação e contacto pleno com o território.

A configuração modular permite que cada abrigo funcione autonomamente, seja como refúgio para hóspedes ou como espaço de trabalho criativo, sempre com uma forte ligação visual à paisagem. A construção em madeira certificada assegura durabilidade e um envelhecimento harmonioso, enquanto as amplas superfícies envidraçadas rasgam a estrutura, inundando os interiores de luz natural e diluindo o limite entre o dentro e o fora.


O desenho parte de um único gesto arquitectónico: um prisma triangular equilátero, compacto e de linhas depuradas, onde apenas o volume técnico — instalações sanitárias e arrumos — separa as áreas de estar e de descanso. Uma simplicidade estudada que responde aos princípios da sustentabilidade, permitindo também uma montagem mais eficiente, mesmo em locais remotos.

Mais do que objectos habitáveis, estes Abrigos de Montanha afirmam a arquitectura como ferramenta de consciência ecológica. A proposta pode ser replicada noutros contextos naturais, sempre com a premissa de integrar, preservar e gerar novas paisagens — naturais, sociais e culturais. Uma arquitectura do lugar que, em vez de se impor, se deixa guiar pela força do território.