Um antigo duplex transformou-se num triplex sereno e intemporal, onde materiais naturais, luz precisa e um forte vínculo afetivo entre arquitetos dão forma a uma morada contemporânea.
Projeto: João de Barro Arquitetura / Fotografias: Keniche Santos
Este apartamento é o resultado de uma parceria afetiva e criativa rara, construída entre arquitetos que partilham linguagem, confiança e uma forma muito própria de olhar a arquitetura. O projeto nasceu do convite de uma amiga e colega de profissão, também arquiteta, cuja relação de liberdade mútua permitiu explorar ideias sem restrições, propor gestos ousados e materializar afetos através do espaço construído. Foi a partir desta relação, que este antigo duplex se transformou num triplex contemporâneo e intemporal.
O grande desafio do projeto foi a criação do terceiro piso, originalmente destinado à área técnica. Com soluções estruturais criteriosas e um diálogo rigoroso com a construtora e com os vizinhos, o espaço deu lugar a uma nova suíte reversível, ampliando o programa e reforçando o conforto. O ponto de partida não era simples: a cobertura encontrava-se em estado bruto e os pontos hidráulicos estavam previamente definidos, o que impunha limitações importantes ao novo layout. Ainda assim, o equilíbrio entre técnica, funcionalidade e propósito estético guiou cada decisão.
A atmosfera do apartamento é definida pela riqueza tátil da madeira natural Jacarandá, pelo contraste elegante do aço preto e pela neutralidade quente das pedras em tons beges. Esta paleta terrosa e equilibrada encontra no branco um contraponto luminoso, criando um cenário sereno onde a luz — natural e artificial — desempenha um papel determinante. A iluminação, um dos pontos fortes do estúdio responsável, foi pensada para modelar volumes, acentuar texturas e criar camadas de conforto visual, combinando ângulos fechados de luz direta com banhos de luz indireta que suavizam e equilibram.
No piso social, o pé-direito duplo e os ambientes integrados — estar, jantar e gourmet — refletem o espírito do projeto: amplitude, serenidade e integração. Sofás de linhas orgânicas repousam sobre um tapete circular, dialogando com a poltrona Jangada, de Sérgio Rodrigues, e com a mesa de centro escultural de Jader Almeida. A mesa de jantar em pedra natural, com veios expressivos, assume protagonismo, acompanhada por cadeiras do mesmo designer, enquanto no espaço gourmet a bancada em Neolith, as banquetas e os painéis em Jacarandá reforçam a fusão entre estética e função.
A escada metálica negra, que flutua entre planos de madeira, torna-se o coração visual da cobertura. Leve e imponente, é uma peça escultórica que sintetiza o conceito do projeto: contraste e harmonia em perfeito equilíbrio. Este elemento, para os arquitetos, tem um significado especial, por representar de forma clara o que valorizam na arquitetura brasileira contemporânea — a coexistência entre leveza e densidade.
O triplex foi concebido para um jovem casal apaixonado por arte e design, que desejava transformar a cobertura num refúgio urbano sereno, silencioso e acolhedor. Procuravam uma casa suspensa, com identidade brasileira e uma sofisticação discreta, onde materiais naturais, luz suave e proporções generosas criassem um ambiente acolhedor. A distribuição acompanha esse desejo: no piso inferior encontram-se quatro suítes, home, escritório, mini copace brinquedoteca; no piso intermédio, o núcleo social amplia-se para incluir estar, jantar, gourmet, adega, spa e lavabo, além de cozinha, despensa, lavandaria e banho de serviço; e, no novo terceiro piso, a quinta suite, que pode ser transformada em escritório.
A ventilação cruzada é assegurada por grandes aberturas em fachadas opostas, enquanto cortinas de linho filtram a luz e controlam o conforto térmico. Na decoração, peças de design brasileiro convivem com obras de arte contemporânea e objetos afetivos dos moradores, numa narrativa que une memória, modernidade e textura. Esculturas cerâmicas, vasos artesanais e pinturas geométricas de artistas brasileiros completam a composição.