A Marianne Tiegen Interiors reinventou o Château La Banquière, uma propriedade do século XVIII situada entre vinhas e carvalhos centenários, perto de Montpellier, em França, transformando-a num destino de hospitalidade onde arquitectura, paisagem e têxteis convergem numa expressão contemporânea, serena e sustentável de luxo.
Projeto: Marianne Tiegen Interiors / Fotografias: Jeremy Wilson
Implantado num parque tranquilo, emoldurado por carvalhos centenários e extensas vinhas, o Château La Banquière apresenta um enquadramento que inspirou desde o primeiro momento o projecto de design. Cada espaço foi concebido como um diálogo com a luz natural e a paisagem envolvente: uma interação entre pedra, madeira, ar e têxteis que anima os interiores ao longo do dia.

Neste projecto, os têxteis assumem um papel que ultrapassa a decoração: tornam-se âncoras espaciais. Os tecidos definem áreas, suavizam a acústica, enquadram vistas e introduzem uma sensação táctil de aconchego normalmente associada a ambientes domésticos. Para um projecto de hospitalidade, a Marianne Tiegen Interiors fez um uso estratégico dos têxteis, concentrando-se em elementos-chave como dosséis, biombos, colchas e painéis de parede, criando intimidade e conforto sem se sobrepor à arquitectura clássica.

A paleta têxtil de La Banquière inspira-se profundamente no contexto mediterrânico. Em colaboração com tintureiros botânicos e especialistas locais, a equipa desenvolveu tonalidades como o “Blush”, obtido a partir de grainhas de uva colhidas nas vinhas do próprio château, ou tons quentes de coral e alperce provenientes da garança (raiz de ruiva), complementados por azuis e cinzentos suaves extraídos do pastel-dos-tintureiros (woad). Estes pigmentos de origem vegetal ecoam o romantismo da propriedade, originalmente oferecida como presente de lua-de-mel, numa tradição inspirada nas villas italianas.





A par de novos tecidos de linho, cânhamo e algodão tingidos naturalmente, o projecto integra uma selecção cuidada de têxteis antigos — damascos provençais, estampagens venezianas em bloco e excedentes de tecidos de alta-costura — adquiridos através de uma rede de coleccionadores e antiquários construída ao longo de anos. Em muitos espaços, os têxteis antigos foram o ponto de partida: uma vez encontrados, a sua textura singular, pátina ou padrão ajudaram a definir toda a direcção do design. Noutros, o tom é dado por linhos ou cânhamos tingidos naturalmente, enriquecidos por variações subtis, profundidade e uma luminosidade silenciosa e viva.


Sempre que os materiais antigos se revelaram frágeis, foram restaurados, reforçados com algodão leve ou assumidos na sua imperfeição, reparados em vez de disfarçados, celebrando a sua história — numa espécie de equivalente têxtil do kintsugi.

La Banquière assinala também o regresso de técnicas artesanais europeias outrora confinadas aos ateliers de alta-costura. Linhos belgas tecidos, serigrafias manuais provenientes de oficinas históricas de Lyon e tecidos venezianos estampados em bloco convivem com painéis bordados decorados com técnicas da alta-costura. O motivo distintivo do projecto é uma abelha subtil, executada em ponto de Beauvais, que estabelece uma ligação entre a biodiversidade da propriedade, o seu espírito regenerativo e a filosofia de design circular.


Os dosséis das camas, os biombos de privacidade e as colchas, fixos a estruturas metálicas ou removíveis, oferecem simultaneamente solenidade e funcionalidade: podem ser desmontados, limpos, reparados ou mesmo novamente tingidos ao longo do tempo, sem comprometer a integridade do design. Os estofos apresentam capas amovíveis; os painéis de armários e divisórias podem ser restaurados ou substituídos, o que significa que o château não está apenas decorado, mas preparado para evoluir, envelhecer com elegância e ganhar riqueza com o uso.


Para Marianne Tiegen, La Banquière afirma-se como um manifesto: hospitalidade sustentável não é sinónimo de austeridade; significa escolher materiais e técnicas que envelhecem com dignidade, que transportam memória e que contribuem para uma economia de design circular e regenerativa.


“O luxo atravessa hoje uma crise de identidade”, afirma. “A sua renovação passa pelo artesanato, pela autenticidade e pela raridade. Com La Banquière, mostramos que a sustentabilidade pode ser uma forma de verdadeiro luxo — enraizada na natureza, na história e no cuidado.”

Daqui a vinte ou trinta anos, os tecidos, as cores e as texturas de La Banquière contarão a sua própria história: uma história de lugar, de tempo, de paciência e de uma beleza vivida.