Por a 13 Novembro 2025

O pied-à-terre de Michael Miranda na Foz, diretor criativo da Ding Dong, é, talvez, um dos mais íntimos do seu portfólio. O espaço sintetiza memória e contemporaneidade, é um tributo ao legado arquitetónico dos anos 70 e um manifesto do estilo cosmopolita que define a vida de Michael e do marido. 

Texto: Isabel Pilar de Figueiredo / Fotografia: Cláudia Rocha / Sytling: Michael Miranda 

“Este projeto foi uma oportunidade de contar uma história que combina a nossa vida e as nossas vivências com o respeito pelo local e pela sua história”, começa por nos dizer o cofundador da Ding Dong com Davide Gomes. Quisemos criar um espaço que fosse funcional e acolhedor, mas também rico em camadas de interesse”, partilha. 

Num edifício marcado pela identidade arquitetónica dos anos 70, Michael quis preservar os elementos originais, como o roupeiro no quarto de vestir ou o louceiro da cozinha, e harmonizá-los com peças contemporâneas e criações próprias. “O edifício tem uma forte identidade dos anos 70 e quisemos respeitar isso. Mantivemos elementos originais e misturámo-los com peças contemporâneas e criações nossas, para que o apartamento tivesse memória, mas também uma linguagem atual.” 

Logo no hall de entrada, o ambiente de azul-noite recebe o visitante, pontuado por obras de arte e peças marcantes como a fotografia de Helena Almeida, um banco “Miramar” da Ding Dong em madeira com pés em bronze, ou ainda o plinto em mármore verde Guatemala com escultura de Friedemann Bühlern. É o prenúncio do que se seguirá: um diálogo entre arte, design e cor. 

O coração da casa é a sala de estar/jantar, dominada por um vibrante turquesa. Na área de refeições, destaca-se o painel em madeira resgatado do paquete Santa Maria, agora enquadrado por cadeiras inglesas em mogno e pelo candeeiro em seda da veneziana Fortuny. Ao longo da janela, um banco corrido da Ding Dong dialoga com a vista dos telhados da Foz. 

Na zona de estar, o tapete em lã e seda da Galerie Diurne é o palco para peças singulares: o cadeirão Guillerme et Chambron dos anos 50, a mesa italiana vintage e o espelho cerâmico da Ding Dong. No lado oposto, o sofá terracota de Vincent Van Duysen para a Arflex impõe-se contra a intensidade das paredes, acompanhado pela mesa em pêlo de Gilles Caffier. 

A cozinha preserva o espírito original, mas com acabamentos requintados: mármore Volakas, armários inferiores em verde-escuro com puxadores em latão e superiores brancos com bronze. No corredor, azulejos pretos criam um gesto gráfico que evoca os restaurantes dos anos 70. 

Na zona privada, o quarto principal e o de vestir entabulam um diálogo subtil de azul e verde-musgo, ecoando a estética setentista. Entre as peças de destaque estão a mesa de cabeceira em gesso desenhada por John Dickinson nos anos 70, os apliques “Alma” de Beata Heuman e a cabeceira da Ding Dong, revestida em tecido leopardo da Le Manach. “Procurava neste apartamento um verdadeiro pied-à-terre, um espaço prático na cidade que ao mesmo tempo refletisse a identidade da Ding Dong”, afirma Michael. 

O quarto de visitas, num amarelo profundo, acolhe o hóspede com surpresa. A cama de família, a colcha em tecido Christopher Farr e os apliques de Arne Jacobsen completam a atmosfera convidativa: “Este foi um projeto especialmente pessoal. Combina a linguagem da Ding Dong, a personalidade marcada do edifício e a minha própria relação com o apartamento. O processo foi exigente, mas o resultado corresponde plenamente ao que procurávamos.” 

Um retrato habitável da identidade criativa da Ding Dong e da sua capacidade de transformar memória em presente.