Por a 19 Novembro 2025

O coletivo One Desk assina este apartamento em Carcóvia que teve como objetivo revelar o que ainda se mantinha de mais valioso da estrutura original datada do século XIX.

Projeto: One Desk / Fotografias: N2 Studio

Localizado em Cracóvia, na Rua Mostowa, este apartamento está dentro de um bonito e eclético prédio antigo. “Para perceber o potencial deste espaço, tivemos de ultrapassar uma série de alterações acumuladas ao longo dos anos. Os quartos eram atravessados por um mezanino de madeira muito baixo e, ao fundo da cozinha quase sem janelas, encontrava-se uma casa de banho exígua, construída em pladur. Felizmente, desde a nossa primeira conversa com os clientes, percebemos a sua sensibilidade para o detalhe e o respeito pela estrutura original do século XIX. Desde o início ficou claro que o objetivo era revelar tudo o que havia de mais valioso neste apartamento, escondido sob muitas camadas de transformações”, conta o estúdio One Desk, que assina o projeto.

Segundo referem na memória descritiva a que a Urbana teve acesso, um dos principais desafios — tão típico dos edifícios desta época — foi levar a luz das quatro generosas janelas voltadas para a Rua Mostowa até ao interior do apartamento. A planta era comprida, com uma segunda zona iluminada apenas indiretamente e — de acordo com os padrões do século XIX — sem uma casa de banho adequada no interior da fracção. A original ficava fora do apartamento, acessível a partir de um corredor comum, pelo que uma das primeiras tarefas foi desenhar uma casa de banho confortável e funcional dentro da própria habitação.

Foi então decidido unir duas divisões para criar uma ampla e representativa sala de estar. Nos edifícios históricos, as cozinhas eram tradicionalmente separadas das áreas sociais, e quisemos preservar essa lógica até certo ponto. A cozinha foi colocada na parte posterior, mas ligá-la à sala revelou-se essencial — não só visualmente, mas também funcionalmente. Para isso, foi alargado e elevado o vão entre os dois espaços, rematando-o com uma padieira de pedra. Um dos cantos foi ainda arredondado, sublinhando subtilmente a sensação de fluidez e suavizando a transição entre as divisões.

A a bancada é em quartzito e, na parede oposta, foi integrado um grande armário embutido que esconde o frigorífico que oferece uma generosa arrumação. Esta solução permitiu instalar apenas um pequeno módulo superior — onde se encontra o exaustor — em vez de uma fila completa de armários suspensos. 

Na sala de estar, o único elemento embutido é um nicho no local do antigo fogão de azulejos, que agora acolhe uma estante desenhada à medida, com um delicado painel espelhado no fundo. O restante mobiliário compõe uma disposição solta e informal — uma referência deliberada ao carácter dos clássicos interiores de prédios antigos, onde o mobiliário era escolhido livremente, privilegiando o caráter individual das peças em vez de conjuntos coordenados.

Formas e texturas variadas combinam-se num todo harmonioso, enquanto a abertura da composição confere leveza e um carácter intemporal ao espaço. A atmosfera é completada por obras do artista cracoviano Michał Sroka.

Por trás da cozinha, está a casa de banho. O acesso faz-se por um pequeno átrio iluminado por luz indireta que entra através de uma janela virada para o corredor comum. A porta da casa de banho é em aço, num tom tijolo quente, e tem vidro canelado. O espaço destaca-se pela altura acima da média, que permitiu criar um nicho em arco com espelho. As paredes combinam azulejos verticais da Ragno com painéis revestidos a folha de nogueira, introduzindo textura natural e um toque acolhedor.

Os pavimentos da cozinha e do átrio são revestidos com mosaicos creme e terracota da marca francesa Winckelmans, dispostos em padrão xadrez clássico — uma referência ao pavimento original ainda presente no edifício. Nas restantes divisões, predomina o parquet de carvalho em espinha. As paredes são decoradas com lambril em bege-claro — um gesto simples que organiza o espaço e acrescenta calor aos interiores altos.