Por a 25 Novembro 2025

Um programa funcional e modesto está na base do projeto para este apartamento de cidade. Desenhado pelo estúdio One Desk, o espaço, aberto e generoso em luz natural, é pontuado por alguns acentos deliberados, entre eles um módulo de cozinha revestido com raiz de padauk.

Projeto: One Desk / Fotografias: Zasoby Studio / segundo memória descritiva

Inserido num edifício intimista, no bairro de Zwierzyniec, na Cracovia, a ocupar o último piso e voltado a sul, este apartamento parece suspenso sobre as copas das árvores. Os proprietários, definiram um programa funcional modesto composto por três elementos essenciais: uma zona social, uma casa de banho e um quarto. Ao coletivo One Desk, que assina o projeto, disseram ainda que o espaço deveria permanecer aberto e inundado de luz natural. 

O que, à partida, parecia uma tarefa simples, tornou-se mais complexo devido à geometria irregular da cobertura multifacetada que define o último piso. Os tectos inclinados, presentes em todas as divisões, revelaram-se por vezes aliados e, noutras, um verdadeiro desafio.

Na zona norte do apartamento, onde originalmente existiam dois quartos mais pequenos, criou-se um único quarto amplo, complementado por um closet e uma pequena área de trabalho. Uma das paredes é revestida por armários embutidos em azul-claro que se prolongam até uma pequena estante, unificados visualmente por um “cornija” horizontal no mesmo tom. De um lado, portas espelhadas dão acesso ao closet; do outro, um assento embutido em folha de madeira desenhada por Ettore Sottsass resolve as irregularidades resultantes da fusão dos dois antigos quartos. O quarto abre-se para o hall e a área social através de largas portas duplas com vidro canelado. Esta abertura generosa reforça a sensação de continuidade e liga duas vistas extraordinárias – o vale do Vístula e a Floresta Wolski. 

A percepção de continuidade espacial é sobretudo conseguida pelo pavimento contínuo em microcimento claro, enquanto uma parede espelhada no hall de entrada oculta a porta da casa de banho e amplifica a noção de espaço, acrescentando um toque subtilmente surreal.

Os proprietários pretendiam que o interior permanecesse sereno e luminoso. A maioria das paredes foi tratada de forma contida, permitindo que as superfícies claras se adaptem e transformem com a mudança da luz. 

A cozinha, de mobiliário baixo, segue o mesmo princípio: frentes em aço inox e uma bancada de pedra clara refletem suavemente o espaço e fragmentos de luz. A tonalidade tranquila é interrompida por alguns acentos deliberados, o mais marcante dos quais é o módulo alto da cozinha – um volume semi-isolado inteiramente revestido a raiz de padauk em tom chocolate. A sua aresta suavemente arredondada evoca as formas aerodinâmicas do modernismo de Gdynia dos anos 1930 – uma referência discreta às origens costeiras dos proprietários. Um motivo semelhante surge no quarto, onde parte do mobiliário embutido cria uma transição suave entre zonas funcionais.

A zona social abre-se totalmente para um grande terraço cheio de plantas em vasos. Para além do sofá em tom ferrugem, destacam-se um aparador desenhado à medida e a luz de parede Counterbalance, da Luceplan, que ilumina a mesa de jantar.

A casa de banho, tal como o resto do interior, define-se por uma paleta clara em que o branco se expressa através de diferentes texturas e tonalidades. A cabine de duche e a bancada são acabadas com pequenas peças cerâmicas da Vogue Ceramica. Um nicho técnico que aloja a máquina de lavar e a de secar está oculto por uma cortina creme, que acompanha o tom das paredes e do mobiliário embutido. Sobre este fundo luminoso, destaca-se o móvel sob o lavatório, revestido em raiz de madeira num tom quente e avermelhado.

Neste interior despojado de ornamentos, há espaço para arte contemporânea. Sobre a cama está uma pintura de Karolina Wasiluk; na parede oposta, uma obra do artista de Michał Sroka. Na sala, um expressivo quadro de Aleksandra Toborowicz completa a composição.