Por a 25 Novembro 2025

Originalmente utilizado como cavalariças, o espaço onde hoje está o Studio Mirante acumula histórias em camadas. A intervenção combinou deliberadamente elementos propostos com existentes, deixando visíveis vestígios de áreas inacabadas e imperfeições — numa aproximação semelhante ao processo do ceramista ao trabalhar peças de barro.

Projeto: Menniz / Fotografias: Nuno Almendra / segundo memória descritiva

Situado junto ao Campo de Santa Clara, em Lisboa, na rua que lhe dá o nome – a Rua do Mirante -, o Studio Mirante é um núcleo multidisciplinar integrado num edifício de dois pisos, generoso em carácter e com uma história feita de camadas. 

O espaço, que contou com o cunho do estúdio de arquitetura Menniz, é composto por três áreas principais — um hall de entrada acolhedor, um estúdio com mezzanine e uma sala de trabalho. O interior é unificado por generosas alturas de pé-direito e por uma diversidade de atmosferas que convidam à exploração.

Originalmente utilizado como cavalariças, o edifício passou por várias transformações ao longo do último século, incluindo uma importante conversão em espaço comercial. A intervenção recente procurou retirar as sucessivas camadas de remodelações anteriores, orientada pelo desejo de recuperar a materialidade original do edifício — nomeadamente os seus acabamentos de pavimento.

O projeto foi guiado por duas intenções essenciais: remover os acrescentos posteriores para revelar a autenticidade do espaço e organizar um ambiente de estúdio limpo e adaptável. Em resposta à visão do cliente, o desenho concentrou estrategicamente as prateleiras de exposição e arrumação ao longo de uma única parede, com 4,5 metros de altura. Este gesto libertou a planta, permitindo uma configuração dinâmica e flexível que apoia tanto o trabalho cerâmico como disposições mais híbridas.

Embora o estúdio tenha sido concebido sobretudo para ceramistas, a sua organização e pormenorização incentivam uma multiplicidade de usos criativos. Funciona como um módulo multifuncional — uma estrutura aberta que acolhe diversas atividades, interações e colaborações espontâneas. O elemento proeminente de estanteria alia utilidade e exposição, definindo o tom para uma atmosfera informal e acolhedora, que convida tanto ao trabalho como ao diálogo.

A intervenção combinou deliberadamente elementos propostos com existentes, deixando visíveis vestígios de áreas inacabadas e imperfeições — numa aproximação semelhante ao processo do ceramista ao trabalhar peças de barro ainda cru.