A “Casa no Lago” é um espaço confortável, acolhedor e profundamente ligado à natureza, porque às vezes, a Natureza é tudo o que precisamos.
Projeto: Ghoche Architecte / Fotografias: Maxime Brouillet / segundo memória descritiva
Descoberto em 2020, em plena pandemia de Covid-19, este terreno situado junto a um lago tranquilo em Lanaudière, no Canadá, revelou-se o local ideal para os proprietários construírem o seu refúgio. O ateliê Ghoche Architecte foi encarregado de desenhar o projeto e acompanhar a obra, concluída em maio de 2022. Integrado na envolvente, moderno, luminoso e acolhedor: estes eram os princípios orientadores da casa de férias destinada ao casal e aos seus dois jovens adultos.

O conceito arquitetónico começou por um estudo da implantação da casa com o objetivo de minimizar a desflorestação e orientar as vistas para o lago, maximizando simultaneamente a exposição solar. As explorações conceptuais conduziram a um volume relativamente compacto e a uma forma longa e depurada, evocando o desenho tradicional de uma cabana de madeira. As vistas e o sol foram cuidadosamente estudados para otimizar a entrada de luz natural e, ao mesmo tempo, limitar as vistas sobre os vizinhos. A casa tinha de se fundir na paisagem, e foi essa ideia que inspirou o volume negro, envolto pela floresta. Como uma sombra entre as árvores, a casa pretende ser discreta e quase escondida no bosque, sendo praticamente invisível a partir do lago.

Composto por um único volume retangular revestido a madeira pintada de preto, o refúgio assenta numa suave inclinação que conduz ao pontão. A parte superior é coroada por uma cobertura inclinada interrompida por uma grande mansarda em cada lado. A outra parte, onde se encontram a garagem e a entrada, integra um terraço na cobertura. Simples mas afirmativo, o volume é rasgado por um grande alpendre forrado a madeira branca, que funciona como entrada protegida das intempéries.

Os materiais exteriores foram escolhidos para reduzir a manutenção, privilegiar a durabilidade e promover a compra local. As paredes exteriores são revestidas com um único material — cedro do Quebeque — cuja face exterior foi queimada para lhe conferir um tom escurecido (técnica japonesa Shou Sugi Ban). A cobertura é em chapa de aço negra, e as suas fortes inclinações e generosos beirais foram pensados para afastar a água e a neve do perímetro da casa.


O piso principal desenvolve-se em dois níveis ligados por degraus de betão, acompanhando suavemente a topografia. Este subtil jogo de níveis, desenhado pelos arquitetos, âncora a casa desde a entrada até às áreas voltadas para o lago. Além disso, permite criar um pé-direito superior a 3,30 metros nas principais zonas de estar.


A partir da entrada, a funcionalidade foi estudada ao pormenor para responder ao clima do Quebeque e às necessidades da família. Primeiro, o alpendre exterior protegido conduz a um amplo hall que dá para a zona de arrumação e permite acesso direto à garagem. No mesmo piso encontram-se ainda um escritório e uma casa de banho com lavandaria.




Descendo alguns degraus, revela-se a vasta área social, marcada por imponentes janelas que enquadram a vista para o lago e as copas das árvores. A grande sala retangular é pontuada por janelas em três frentes, beneficiando de luz desde o amanhecer até ao pôr-do-sol. No centro do espaço, a cozinha domina com armários de carvalho natural do chão ao teto, oferecendo um toque depurado e acolhedor. A ilha de 3,60 metros permite cozinhar voltado para a paisagem, tornando o espaço ideal para receber amigos. A área aberta integra ainda a sala de estar com lareira a lenha e a sala de jantar, que se prolonga para uma varanda envidraçada com vigas de madeira expostas, proporcionando uma experiência imersiva na floresta circundante.




Para chegar ao piso dos quartos, uma escada de carvalho foi colocada no centro da planta, dividindo o piso superior em duas zonas. A primeira impressão ao subir é o impacto do pé-direito de cerca de 5 metros e da zona de circulação aberta que conduz aos três quartos. Os dois quartos dos jovens, idênticos e simétricos, foram pensados para receber amigos e permitir celebrações afastadas da zona dos pais. Cada quarto tem acesso ao terraço na cobertura e dispõe de uma mezzanine privada com uma impressionante janela triangular — o lugar perfeito para observar as estrelas. A suite principal e um escritório privado completam o piso superior, desfrutando da melhor vista para o lago através de janelas de grandes dimensões.



Os acabamentos interiores são contidos e contrastam com a paleta escura do exterior: paredes pintadas de branco, tetos com ripas de madeira branca, armários e escadas em carvalho natural e pavimentos de betão polido com aquecimento integrado. A paleta neutra foi escolhida para dar protagonismo às obras de arte, às plantas e ao mobiliário colorido, permitindo que a casa ganhe a personalidade dos seus habitantes.