Por a 18 Novembro 2025

João Tiago Aguiar assina o projeto destas duas casas, na localidade de Sassoeiros, desenhadas de forma equilibrada e funcional. Fotografadas por Francisco Nogueira, as casas negam qualquer gesto de ostentação, afirmando-se como simples e intemporais.

Projeto: João Tiago Aguiar / Fotografias: Francisco Nogueira / segundo memória descritiva

Implantadas em Sassoeiros, estas duas casas representam um contributo para a requalificação e dignificação do lugar, através de uma arquitetura que procurou ser honesta, funcional e equilibrada.
A configuração dos lotes, de dimensão reduzida e com declive acentuado, impôs uma abordagem racional, em que cada metro quadrado foi optimizado.

Procurou-se desenhar espaços amplos e bem proporcionados, evitando desperdício em corredores e circulações, privilegiando antes áreas generosas e vividas. O piso semi-enterrado acolhe a garagem, lavandaria, sala multiusos, arrumos e instalação sanitária de apoio. O pátio inglês inunda este piso de luz natural, sobretudo a sala multiusos, tornando o espaço mais agradável e habitável.

No piso térreo, correspondente à entrada pedonal, um pequeno hall é delimitado por um volume solto que integra a instalação sanitária social e oculta a escada que liga os três níveis. De um lado, a cozinha aberta prolonga-se para a sala de jantar e, graças a um vão de sacada tipo pocket, estende-se até ao jardim e à piscina a tardoz, num diálogo contínuo entre interior e exterior.

Do outro lado, a sala de estar volta-se para o alçado frontal e abre-se sobre um terraço que se projecta sobre a entrada da garagem, oferecendo cobertura parcial ao espaço exterior do piso inferior. É nesse terraço que se posiciona a floreira cúbica de onde nasce a árvore que rasga o piso superior em direcção ao Céu: um gesto poético que introduz natureza, verticalidade e luz no interior.

O piso superior concentra a área privada: uma suite e dois quartos servidos por uma instalação sanitária partilhada. A suite e um dos quartos abrem para o vazio atravessado pela árvore, enquanto o terceiro quarto, virado a tardoz, comunica com um pátio privado e intimista, concebido como espaço de recolhimento e serenidade.

A escada central culmina num lanternim zenital que banha o núcleo vertical de circulação de luz natural ao longo do dia, transformando a percepção do espaço com o movimento do Sol. As instalações sanitárias, também iluminadas por aberturas zenitais, reforçam esta atmosfera de luminosidade suave e controlada.

Exteriormente, o piso semi-enterrado foi revestido num tom cinza claro, enquanto os volumes superiores, brancos, se libertam visualmente do terreno, acentuando a leitura dos dois pisos e a proporção do conjunto. Nos materiais, optou-se por pavimentos em madeira de carvalho americano (também aplicada nas escadas), microcimento no piso inferior e pedra natural nos terraços, pátios e piscina. Nichos e caixas de luz embutidas pontuam os espaços interiores, criando ambiências quentes e equilibradas.


Em síntese, procurou-se desenhar casas simples e bonitas, duradouras e intemporais, onde a funcionalidade, o conforto e a proporção se sobrepõem a qualquer gesto de ostentação, reafirmando uma ideia de arquitetura honesta e essencial.