Bárbara Bardin e Julio Cano, os arquitetos fundadores do coletivo Canobardi, assinam o projeto desta casa, numa propriedade agrícola na Mancha Alta, em Cuenca, em Espanha
Projeto: Canobardi Texto: segundo a memória descritiva dos arquitetos; via Archdaily
As condicionantes, o enquadramento e as técnicas tradicionais dos pedreiros locais determinaram em grande parte o resultado final desta casa, alojada numa propriedade agrícola na Mancha Alta, em Cuenca — no município de Zafra de Záncara, em Espanha.
A propriedade é composta sobretudo por campos cultivados, pontuados aqui e ali por árvores isoladas. A norte do local escolhido pelo proprietário para edificar a sua casa, e paralelamente ao caminho de acesso, existe uma fiada de amendoeiras.
A casa ergue-se numa zona praticamente plana do terreno, com uma ligeira inclinação a sudeste e localizada no topo de uma mudança de declive, o que confere à implantação uma ampla vista sobre os campos. O clima é rigoroso: invernos longos, frios e ventosos, e verões secos e quentes.


O objetivo do edifício é servir de refúgio de fim de semana e permitir ao proprietário acompanhar o desenvolvimento das atividades agrícolas. Como a casa permanece desabitada durante longos períodos, a rapidez de aquecimento foi uma preocupação desde o início, tal como a inexistência de ligação à rede eléctrica.
Os pedreiros da região constroem geralmente com blocos de termoargila, o que levou à opção por paredes estruturais de blocos com 29 centímetros de espessura que, juntamente com o isolamento e o revestimento interiores, resultam em paredes superiores a 40 centímetros de espessura, garantindo ampla protecção contra as condições climáticas adversas.


As janelas são pequenas; nos quartos, sentimo-nos quase como um coelho na sua toca. São quadradas, com 50×50 centímetros, verdadeiros quadros que enquadram a paisagem agrícola. A água necessária é captada de um poço próximo e, na ausência de fornecimento de energia, é bombada por um sistema solar fotovoltaico, que também alimenta electricidade para a casa.
Isto permite que os proprietários desfrutem do passar das estações e das mudanças nas culturas ao longo do ano de forma totalmente autossuficiente, sem depender de qualquer infraestrutura externa. O aquecimento é assegurado por uma caldeira de biomassa que, em conjunto com o bom isolamento, garante que em apenas algumas horas a casa atinja uma temperatura confortável, mesmo nos dias mais frios dos invernos gelados de Cuenca.
A casa organiza-se em dois volumes distintos, garantindo privacidade aos quartos, e entre um conjunto de muros que criam zonas de convivência agradáveis. Estes muros ora protegem dos ventos gélidos do norte, ora ajudam a adaptar o conjunto à topografia, ora servem para ocultar os painéis solares.
O uso de telhas recuperadas de uma demolição na região, aliado ao excelente trabalho de Julián, o pedreiro responsável, faz com que quem observa a casa dificilmente a reconheça como uma construção nova — muitos comentam que parece a reabilitação de um edifício existente. Para nós, esse é o melhor elogio que o projeto poderia receber.










