O SIGLA Studio assina o projeto de arquitetura desta casa que evoluiu com quem vive nela. Com uma materialidade simples e honesta e organizada em dois pisos, a luz é uma das grandes protagonistas.
Projeto: SIGLA Studio / Fotografias: Marta Vidal
Em Cardedeu, nos arredores de Barcelona, o ateliê SIGLA Studio encontrou a oportunidade de repensar a forma como uma família vive — e cresce — no interior de uma casa. A encomenda partiu de um casal jovem com dois filhos, decidido a abandonar um apartamento compartimentado e pouco iluminado. Queriam uma casa simples, útil, generosa e honesta. Procuravam sol, jardim, piscina e, sobretudo, a possibilidade de a casa evoluir com eles.




A estratégia do projeto nasceu desta ambição e da morfologia do terreno. O SIGLA Studio decidiu ocupar quase todo o máximo edificável no piso térreo, desenhando um perímetro que cria um verdadeiro refúgio interior: uma casa-pátio, íntima e autónoma, protegida dos vizinhos através de muros de carga laterais que filtram vistas e enquadram a natureza. A referência à casa experimental de Muuratsalo, de Alvar Aalto, é evidente — não pela repetição formal, mas pela mesma serenidade na forma de delimitar o espaço e na inteligência com que se escolhe o que abrir e o que proteger.




O programa distribui-se em dois pisos. No rés do chão, situam-se os espaços sociais — hall, sala, cozinha, sala de jantar — juntamente com um quarto polivalente, lavandaria, garagem e um quarto de banho completo. No piso superior, duas grandes áreas podem transformar-se em quatro quartos, organizados por um generoso distribuidor que funciona como lugar de estudo, leitura ou brincadeira. Tudo gravita em torno de dois pátios fundamentais: o de entrada e o da piscina, que asseguram ventilação cruzada e luz natural permanente.




A luz, aliás, é um dos protagonistas do projeto. A casa acompanha o percurso solar ao longo do dia, permitindo que os seus habitantes percebam as mudanças subtis das estações e das sombras. Uma qualidade reforçada pelo uso de materiais destinados a envelhecer com dignidade. Os muros em tijolo manual, fabricado no Forn d’Obra Duran segundo processos artesanais, conferem textura, irregularidade e profundidade visual. Este material estende-se também aos pavimentos exteriores, peitoris e remates, unificando a linguagem construtiva.


No interior, a paleta mantém-se contida. O microcimento da INGREMIC percorre o piso térreo, enquanto o piso superior recebe soalho natural. As abóbadas cerâmicas expostas revelam a estrutura, e o mobiliário fixo em madeira de castanheiro reforça a ideia de honestidade material. Nas casas de banho, o microcimento dialoga com os azulejos vidrados da Ceràmica Ferrés, criando uma atmosfera contida, mas luminosa.


A seleção de peças soltas segue o mesmo princípio de sobriedade funcional. Na sala de estar convivem o candeeiro Akari da Vitra, um banco de cortiça Cork Family de Jasper Morrison e um vaso de vidro de Alvar Aalto. A sala de jantar articula a mesa e cadeiras da Tikamoon com a suspensão Sísí de Santa & Cole e um tapete da DAC Rugs. A cozinha feita à medida em castanheiro é iluminada pelas HeadHat Bowl, também da Santa & Cole. No piso superior, a área de circulação ganha vida com uma poltrona Carl Hansen, a icónica Cesta Metálica e os apliques TMM da mesma marca, acompanhados por um tapete de The Rug Company.


No quarto principal, as peças da LUFE — cama, mesas de cabeceira e roupeiro — convivem com o candeeiro FAD pequeno da Santa & Cole e uma suspensão Rice Paper Shade da Hay. A cerâmica preta de Eloi Bonadona, presente na entrada e na escada, acrescenta um contraste gráfico subtil. A iluminação é pontuada pelo aplique Nùvol da Contain e pela torneira ICÓNICO nas casas de banho. Tudo se articula com discrição, como se as peças sempre tivessem pertencido ao lugar.


Mas talvez a singularidade da Casa Acácias seja a sua flexibilidade. A planta permite reorganizações sem obras: hoje, os pais ocupam o piso superior e os filhos dois quartos comunicantes; amanhã, poderão instalar-se no rés do chão, enquanto cada criança passa a ter duas áreas conectadas — para dormir e para estudar ou brincar. A casa não dita um uso, antes sugere possibilidades.
Como escreveu Luis Barragán, “a arquitetura é a arte de organizar o silêncio”. Na Casa Acácias, esse silêncio constrói-se com matéria, luz e tempo — e transforma-se num modo de habitar pleno, sereno e humano.