A primeira vez que, em companhia do cliente, visitámos esta habitação, situada no antigo Huerto de Sogueros, em pleno coração do Bairro de El Carmen, em València, houve uma sintonia especial quanto à declaração de intenções iniciais: eliminar todos os adornos supérfluos de uma recente e falhada remodelação anterior.
Texto: AIRARQUITECTXS
Arquiteto: Jaime Aparicio Fraga
Equipa: Alex Castillo, Luciana Bruna, Marta A. Lastra, arquitectxs
Fotografia: Mariela Apollonio
O objetivo principal era permitir um diálogo simples e despido com a arquitetura, suprimir tudo o que não fosse essencial e orientar os esforços para a procura de espaços que recuperassem a austeridade original desta casa operária do início do século XIX, um dos poucos exemplos desta tipologia em Ciutat Vella.
O projeto foi orientado em duas direções: a primeira, relativa à abertura espacial; e a segunda, centrada em destacar as soluções construtivas existentes. Assim, o desenho dos diferentes espaços da casa permitiu criar áreas de maior amplitude em relação ao terraço nas traseiras, como a sala de estar, a sala de jantar e a cozinha, que foram banhadas por uma serena luz vespertina.
Por seu turno, os espaços de descanso foram destinados para o lado oposto da habitação, procurando a continuidade espacial entre eles para permitir a visão dos singulares pavimentos de vigotas de madeira, o que foi concretizado através de grandes planos de vidro que conectam visualmente os compartimentos dessa ala.
A intervenção procurou, assim, destacar o interessante sistema construtivo e estrutural da habitação, deixando à vista as paredes mestras em alvenaria tradicional à vista ou os pavimentos de estrutura de madeira com enchimento artesanal, exigindo um importante trabalho de restauro desses elementos, que apresentavam danos significativos. Considerou-se igualmente importante acentuar outros elementos característicos desta tipologia, como as divisórias de tabique leve ou a carpintaria de madeira.
Em conclusão, não havia, portanto, finalidade mais substancial do que promover um diálogo profundo com a arquitetura original através da eliminação dos ornamentos, que tinham adquirido uma presença significativa devido à referida remodelação anterior. Tal como na sentença de Mélnikov, procurou-se alcançar esta união através da simplicidade, conectar profundamente com a essência do lugar, recuperar o respeito poético através da sublimação da sensualidade material.