“Catwalk: The Art of the Fashion Show” inaugura a 18 de outubro e ficará patente até 15 de fevereiro de 2026. A mostra organizada em quatro salas, propõe uma leitura do desfile como uma “obra de arte total”.
Duram apenas quinze minutos, mas o seu impacto percorre o planeta: os desfiles de moda são hoje mais do que simples apresentações de roupa — são espetáculos mediáticos, rituais sociais e declarações de estilo. É precisamente esta dimensão total que o Vitra Design Museum celebra em “Catwalk: The Art of the Fashion Show”, uma exposição que inaugura a 18 de outubro – dedicada à história e ao significado cultural dos desfiles de moda – e que ficará patente até 15 de fevereiro de 2026.

Da intimidade dos salões parisienses de 1900 às performances digitais do século XXI, a mostra traça mais de cem anos de passarela, reunindo nomes como Azzedine Alaïa, Balenciaga, Chanel, Dior, Gucci, Maison Martin Margiela, Prada, Viktor & Rolf, Louis Vuitton ou Yohji Yamamoto. Através de peças originais, fotografias, vídeos, convites e objetos cénicos, a exposição revela como os desfiles evoluíram de eventos exclusivos para clientes da alta-costura para grandes encenações globais que fundem arquitetura, luz, som, coreografia e narrativa.
Organizada em quatro salas, a exposição propõe uma leitura do desfile como uma “obra de arte total”. Na primeira sala, revisitamos os primórdios do século XX, quando Charles Frederick Worth foi pioneiro ao apresentar vestidos em modelos reais, e Coco Chanel fazia as suas criações descerem uma escadaria espelhada. Um dos momentos mais emblemáticos desta época é o lendário Théâtre de la Mode (1945), onde os costureiros franceses apresentaram miniaturas das suas coleções em bonecas de arame — um símbolo do renascimento da moda após a guerra.

Casa de moda de Paul Poiret, vista para o estúdio de Chanel. © Vitra Design Museum Archiv

A segunda parte mergulha na revolução do prêt-à-porter, quando os desfiles saíram dos salões e se fundiram com a vida urbana e as subculturas. Kenzo transformou as apresentações em festas, Paco Rabanne e Courrèges experimentaram com o espaço e o movimento, e a célebre Battle of Versailles (1973) marcou um ponto de viragem, com designers americanos a desafiar a supremacia francesa. Foi também nesta era que as modelos negras conquistaram a passarela e os convites dos desfiles ganharam estatuto de objetos de culto.
Nos anos 1990, as supermodelos elevaram os desfiles à categoria de fenómeno global. Cindy Crawford, Naomi Campbell e Linda Evangelista tornaram-se ícones de poder e glamour — recorde-se o memorável momento da Versace ao som de Freedom, de George Michael. Mas esta década trouxe também leituras críticas: filmes e performances questionaram o culto da imagem e a pressão pela perfeição.

Com a viragem do milénio, o desfile de moda tornou-se um espetáculo multimilionário. Karl Lagerfeld transformou o Grand Palais num supermercado, num foguetão ou numa avenida de protesto para a Chanel, enquanto Alexander McQueen e Viktor & Rolf redefiniram o desfile como performance artística. Martin Margiela levou a teatralidade ao extremo, apresentando coleções em locais abandonados e deixando o próprio cenário — um tapete manchado de tinta ou um vestido tingido por gelo derretido — como testemunho do efémero.


A quarta e última sala transporta-nos à era digital. A pandemia acelerou a transição para formatos híbridos e virtuais — The Dior Myth apresentou uma coleção em miniatura, a Loewe lançou o seu Show in a Box, e a Balenciaga levou os Simpsons à passarela. Hoje, o corpo torna-se um manifesto político: Rick Owens, Alessandro Michele e Demna Gvasalia desafiam convenções de género, beleza e identidade. A arquitetura assume também um papel protagonista, com a colaboração entre Rem Koolhaas/OMA e Prada ou com o casaco “skyline” de Virgil Abloh para a Louis Vuitton, inspirado em arranha-céus icónicos.

Mesmo na era da transmissão em direto e das redes sociais, “Catwalk: The Art of the Fashion Show” lembra-nos que o desfile continua a ser um acontecimento insubstituível — uma experiência sensorial, coletiva e profundamente artística, que reflete os mitos, os sonhos e as tensões da sociedade contemporânea.
A exposição é acompanhada por um catálogo ilustrado, com contributos de nomes como Małgosia Bela, Michel Gaubert, Andreas Murkudis, Caroline Evans, Cathy Horyn e Valerie Steele. Organizada pelo Vitra Design Museum em parceria com o V&A Dundee, esta é uma homenagem à passarela enquanto palco onde a moda se transforma em arte.