Por a 15 Outubro 2025

As cores talvez não sejam consensuais: um vermelho que envolve grande parte dos ambientes, pontuado por tons de verde que contrastam e conferem um tom retro. A irreverência é assinada por Ricardo Abreu e as fotografias são de Renato Navarro.

Projeto: Ricardo Abreu / Fotografias: Renato Navarro

Em São Paulo, no bairro do Brooklin, um apartamento de 113 m² ganhou uma nova vida pelas mãos do arquiteto Ricardo Abreu e da sua equipa. Concluído em julho de 2025, o projeto revela uma harmonia entre o legado afetivo dos moradores e uma estética contemporânea que valoriza o conforto, a cor e as formas orgânicas.

O espaço pertence a um casal que divide o tempo entre Brasília e São Paulo. O desejo era claro: criar um refúgio de fim de semana que acolhesse peças herdadas de família, mas que ao mesmo tempo respirasse modernidade. O ponto de partida foi o diálogo entre o antigo e o novo, com um olhar especial sobre o mobiliário e os materiais.

A intervenção concentrou-se sobretudo na zona social e de serviço. A ampla varanda foi integrada à sala, criando um ambiente generoso de 49 m² que acolhe a área de estar, jantar, home theater e um espaço gourmet. O antigo quarto de serviço deu lugar a uma área mais ampla e funcional, enquanto os quartos foram mantidos na configuração original.

O grande protagonista do projeto é o granito vermelho, uma pedra natural e intemporal que define o tom da casa. Presente na ilha gourmet, no painel da televisão, na cuba esculpida do lavabo e até no tampo da antiga cómoda de madeira — uma peça de herança familiar —, o material serve de fio condutor entre os ambientes. O vermelho também aparece nos mosaicos hidráulicos da Dallepiagge que revestem o pavimento da sala de jantar e do espaço gourmet, desenhados num padrão de xadrez que reforça a estética retro.

As curvas suaves das paredes — uma solução para disfarçar saliências estruturais — moldam o espaço e criam uma sensação de continuidade visual. “Queríamos que o apartamento tivesse uma fluidez natural, como se os ambientes se abraçassem”, explica Ricardo Abreu. Esta ideia é reforçada pelo uso de uma única cor nas superfícies principais, que unifica os volumes e dilui os limites entre as áreas.

O pavimento original em soalho de madeira cumaru foi mantido, preservando o caráter autêntico do apartamento. No lavabo, as boiseries da Santa Luzia evocam o charme das casas antigas, enquanto na cozinha, o vermelho dá lugar ao verde, num diálogo cromático que remete à estética vintage. Aproveitaram-se os móveis existentes, renovando apenas as portas dos armários — uma solução económica e sustentável que reforça a coerência visual do projeto.

No quarto do casal, as boiseries voltam a aparecer, agora pintadas num tom de verde mais suave, que contribui para um ambiente acolhedor e elegante. A iluminação — técnica da Llum e decorativa a partir do acervo pessoal dos proprietários — acentua a textura dos materiais e cria diferentes atmosferas ao longo do dia.

Entre as peças de destaque estão as cadeiras Girafa, de Lina Bo Bardi, a poltrona Due e o sofá verde da Unique by House, bem como os tapetes By Kamy e os objetos decorativos. Duas obras de arte reforçam o caráter pessoal da decoração: Família de Gatos, de Aldemir Martins, e Chuva, de Carybé — ambas escolhidas por afinidade emocional com os moradores.