Marta Ramada Leite fundou, em 2022, a Craft Gardens, um projeto que nasceu do desejo de unir tradição, ecologia e design emocional. Depois de ter estado na Lisbon Design Week e na Paris Design Week, a marca inaugurou no passado dia 25 de outubro uma exposição em Sintra.
Fotografias: Bruno Barbosa
A Craft Gardens, criada em Matosinhos em 2022 por Marta Ramada Leite, nasceu do desejo profundo de unir tradição, ecologia e design emocional. Depois de mais de uma década de experiência na área do marketing, Marta decidiu dar forma ao lado criativo que sempre a acompanhou, encontrando na arte ancestral polaca do Pajaki uma linguagem que podia ser reinventada com identidade portuguesa. Ao reinterpretar esta tradição através de uma estética contemporânea, delicada e meditativa, a artista transforma-a numa expressão única da Portugalidade: uma fusão entre raízes culturais, respeito pela natureza e inovação estética.


As esculturas suspensas da Craft Gardens — chandeliers e instalações têxteis — são “jardins visuais em suspensão, manifestações de cor e forma que evocam silêncio, bem-estar e presença”, diz-nos Marta. Criada manualmente, fio a fio, cada peça é resultado de um processo que honra o tempo, o gesto e o cuidado. A escolha das matérias-primas não é neutra: fios de algodão e ECONYL®, um fio regenerado a partir de redes de pesca e resíduos industriais, tornam cada obra numa afirmação de sustentabilidade e regeneração criativa, demonstrando que luxo e consciência podem coexistir.
A força da Craft Gardens está também na jornada pessoal da sua criadora. Marta Ramada Leite é velejadora, mãe, artista pajaki e marketeer de profissão. Essa multiplicidade de papéis imprime nas suas criações uma visão singular, onde disciplina e liberdade, técnica e intuição convivem. A ligação ao mar — lugar de inspiração e de aprendizagem de resiliência — reflete-se na leveza e no movimento dos tassels, que parecem fluir como ondas em suspensão. “Quis trazer luz, cor e alma aos espaços. O meu desejo é que cada peça provoque uma pausa — e um sorriso. Que este movimento de beleza feita à mão floresça, made in Portugal”, partilha a artista.

Entre as suas obras, destaca-se a Blossom Gardénia – Primavera, uma escultura suspensa com um metro de diâmetro, criada com tassels em degradé de fios ECONYL®. A peça explora ritmo, repetição e equilíbrio visual, evocando o desabrochar de um jardim em plena eclosão. Representa a renovação e a abundância, celebrando a transformação como essência da vida. Esta obra tornou-se um ícone da marca, sintetizando a delicadeza do gesto manual com a força de uma mensagem universal: a beleza pode nascer do que foi descartado.

Relembramos que, este ano, a coleção “Jardins Suspensos” foi apresentada na Lisbon Design Week, no Roca Lisboa Gallery, como parte da mostra O Ecoar da Matéria-Prima, com curadoria de Wesley Sacardi. Parte desta coleção viajou depois até Paris para integrar a Paris Design Week 2025, numa exposição com curadoria da arquiteta Nini Andrade Silva e promoção da AICEP. Realizada na Galerie Joseph, em pleno bairro do Marais, a mostra RE.MADE IN PORTUGAL naturally foi considerada uma das mais impactantes da edição e representou um marco decisivo na internacionalização da Craft Gardens.
Nova exposição
No passado dia 25 de outubro, a Craft Gardens inaugurou uma nova exposição no Palácio de Biester, em Sintra, em parceria com a Luka Art Gallery e com curadoria de Ana Carolina Villanueva.
A mostra apresenta peças inéditas da coleção Jardins Suspensos, reforçando o diálogo entre arte, natureza e espaço habitado e revelando um território onde o manual se transforma em linguagem poética e emocional.
Entre as obras expostas, destaca-se Blossom Gardénia – Azulejos, uma escultura têxtil suspensa que presta homenagem à tradição dos azulejos portugueses — ícones da nossa identidade visual e emocional. Nos tons de azul, branco e dourado, a peça evoca o mar, a luz e o tempo, símbolos da portugalidade e da herança artística do país. Os corações no seu desenho refletem a paixão pela arte, pelo mar e pelo belo, revelando a alma poética que move a criação.



A acompanhar a nova exposição estão as fotografias tiradas na Caves Kopke – que ilustram, também este texto —, que respira o mesmo ar denso e luminoso onde o vinho se torna emoção e a arte ganha corpo — um espaço onde tradição e tempo se entrelaçam, e onde o vinho e a arte portuguesa partilham a mesma alma. Com um pé firme em Portugal e outro a projetar-se no mundo, a Craft Gardens assume-se como um projeto a seguir de perto.