Reinventando sem perder a alma modernista, este apartamento datado do início dos anos 80 foi beber inspiração à visionária Lina Bo Bardi. Conheça a sua história e a forma como o escritório Alencar conseguiu criar um diálogo entre décadas. As fotografias são de Eduardo Macarios.
Projeto: Alencar / Fotografias: Eduardo Macarios
Há casas que se reinventam sem nunca perder a alma — e o Apartamento Lina é um desses raros exemplos. Projetado no início dos anos 80, o espaço mantém como assinatura as suas portas em arco, os tetos altos e as linhas orgânicas que, então, contrastavam com a rigidez modernista. A renovação não procurou apagar essa herança, mas sim realçá-la, integrando elementos contemporâneos de forma delicada e harmoniosa.
É precisamente esta abordagem que torna este apartamento único: em vez de impor uma nova identidade, o projeto assume-se como um diálogo entre épocas. As memórias arquitetónicas da década de 1980 convivem lado a lado com um mobiliário modernista brasileiro cuidadosamente curado — um tributo à riqueza cultural e ao design icónico das décadas de 1950 e 1960. O Sofá Mole, de Sérgio Rodrigues, é um dos protagonistas deste cenário, mas não está sozinho: o apartamento é hoje uma coleção viva, feita de peças com história, relíquias de família e lembranças de viagem, que se transformam em camadas de significado e autenticidade.
Mais do que estética, a narrativa do projeto assenta na memória. Cada objeto foi escolhido não apenas pela sua forma, mas pela sua história, criando uma casa que reflete simultaneamente um legado cultural e uma jornada pessoal. Os materiais naturais — madeira, linho e couro — reforçam essa intemporalidade, enquanto a vegetação exuberante traz frescura e suavidade. A opção por um layout aberto e flexível, com peças soltas em vez de painéis fixos, reforça a sensação de leveza e fluidez em todos os ambientes.
No coração da casa, a cozinha tornou-se o grande espaço de convívio. Antes fechada, foi aberta à luz e à circulação, ganhando uma ilha central que funciona tanto como área de trabalho como ponto de encontro para familiares e amigos. É aqui que a sofisticação contemporânea se encontra com o conforto, transformando-se num cenário de partilhas, refeições e conversas prolongadas.
Mas porque se chama “Apartamento Lina”? A resposta guarda ainda mais camadas de significado. O nome foi inspirado em Lina Bo Bardi, arquiteta e designer visionária que marcou a história do modernismo brasileiro. Os proprietários, ambos arquitetos, deram esse nome à filha e, de forma natural, ao apartamento. A ligação aprofunda-se com a presença de peças originais da própria Lina Bo Bardi no interior, como a cadeira Frei Egídio e a Bordadeira Girafa, tornando o espaço não só uma homenagem pessoal, mas também uma celebração do legado do design brasileiro.
Podemos concluir dizendo que o Apartamento Lina é uma declaração de intenções: preservar a história, celebrar a memória e criar um lar que respira autenticidade. Um espaço onde passado e presente se encontram, e onde cada detalhe é um convite à descoberta.