No coração da reserva do Estuário do Sado, entre jasmim, silêncio e luz filtrada, esta casa não segue tendências — segue o instinto de quem a projetou. É o reflexo fiel de uma vida cheia. De viagens, memórias e afetos. Victoria, historiadora de arte, trouxe para aqui não só móveis e objetos, mas sobretudo a alma de um lugar que é seu.
Texto: Isabel Pilar de Figueiredo / Produção: Amparo Santa-Clara / Fotografia: Gui Morelli
“Visitei pela primeira vez a Comporta há muitos anos, com o Pedro Espírito Santo e o Luís Saldanha, depois de viajar extensivamente por África”, conta-nos Victoria. “Fiquei encantada com a beleza natural e intocada que descobri no Vale Perdido, no fim da Herdade da Comporta, e continuei a visitar regularmente o lugar até 2015, quando me mudei para Lisboa”. Ao longo do tempo, o desejo de ter uma casa própria na Comporta foi crescendo.






Em 2018, juntamente com o seu companheiro Aramy Machry, Victoria adquiriu um terreno em Possanco, na reserva natural do Estuário do Sado, onde a variedade de aves que habitam o lugar lhe empresta um colorido e uma vida únicos. “Queria uma casa confortável e acolhedora, habitável durante todo o ano – não apenas uma típica casa de verão”, revela. Para tal, o casal colaborou com o arquiteto João Urbano, da Conceitos de Arte, conhecido coletivo de arquitetura.




“Sempre desenhei as minhas próprias casas. Como historiadora de arte, o sentido de pertença é essencial para mim”, prossegue. Esta casa é, como tal, o reflexo da sua personalidade. “Vivi em vários países e, como eu, a casa carrega um espírito de viagem, de descoberta”. Teria de ser cómoda, habitável durante todo o ano e teria, ainda, de proporcionar uma nova vida às peças que acompanham Victoria desde sempre.




Para este projeto, foram escolhidos materiais acolhedores e naturais, como a terracota, ao invés do microcimento, uma opção vulgarmente vista nas casas da região. “Quis criar uma casa onde o conforto está sempre presente”. Os móveis ingleses – que são, segundo a nossa interlocutora, “os mais cómodos que existem” – fazem parte deste cenário e refletem esta intenção. “Gosto do fator mistério, e a casa é reflexo de tal. Ela é misteriosa, com camadas, silêncios e histórias por descobrir”.
Há duas mesas que proveem da Toscânia, os candeeiros chineses, do século XVIII, foram adquiridos em Londres e todas as peças de cerâmica, que são únicas, foram criadas pelo companheiro, o artista Aramy Machry.








“Cada peça conta uma história”, acrescenta. “E como tal, o resultado é uma mistura de conforto e diversidade, um verdadeiro reflexo de quem eu sou. Não sigo tendências, sigo o meu instinto, que é imprevisível e eclético. Tudo na casa faz parte de uma narrativa”. Esta linguagem estende-se à cozinha, onde o mobiliário, do século XIX, provém de antigas escolas. “Sempre tive uma mesa em frente à área da cozinha, para preparar alimentos e servir jantares”. Adoro cozinhar e improvisar”, diz-nos, fazendo menção à grande mesa de madeira. “Não gosto do óbvio. Sou misteriosa, irreverente e, admito, um pouco traquinas…”.




Na mesma linha, a sala de estar reflete o conforto do mobiliário inglês e aqui destaca-se a grande variedade de têxteis encontrados ao longo das muitas viagens. Para que todas as peças encontrassem nesta casa um novo contexto, Victoria deu-lhes uma nova vida, recuperando-as. “Não é apenas um estilo Comporta – é a expressão do meu ‘panache’ inato”.










Prosseguindo, a casa de banho é uma extensão do espaço de estar, com cadeiras e uma mesa onde é possível tomar o pequeno-almoço ou um chá. Um grande espelho do século XVIII reflete toda a divisão. O terraço, no piso superior, é o local perfeito para ver o pôr do sol no verão.
Os pavimentos são feitos à mão pela Todo Barro, empresa de Málaga. O teto é de madeira natural e os estores são de bambu, solução ideal para filtrar a luz – que, à noite, parece luz de velas. A pérgula do terraço está coberta de jasmim e dá para uma vista verde e indomável – uma extensão da natureza – com duas oliveiras antigas. A piscina é uma ‘lap pool’, discreta e escondida. Nadar é uma das suas paixões.







“Esta é verdadeiramente uma casa eclética, algo excêntrica. É um lugar onde as pessoas são bem-vindas e sentem uma energia especial, uma vibração que convida à partilha e à contemplação. A minha visão está toda aqui”, desabafa, com o seu olhar vivo e desafiante.
Get the Look
Inspiradas por esta casa, sugerimos um conjunto de elementos onde as texturas naturais encontram um colorido especial. Cada peça conta uma história e convida à permanência. Um olhar curado sobre o design com caráter.


1. Conjunto de 2 guardanapos de algodão com bordado espiga de trigo azul em fundo cru, fabricado na Índia, 45 x 45 cm, da Sézane.
2. Cesto Basopen, tradicionalmente usado para guardar pássaros no Oriente, transformado em abajur pela equipa da Tine K Home.


3. Manta Tales tecida em algodão, ilustrada com uma paisagem extravagante, 100% algodão, da Anthropologie.
4. Jarro de vidro artesanal Hobnail (2 L), Anna von Lipa, da Westwing, soprado à boca e 100% feito à mão na República Checa.

5. Espreguiçadeira dupla de bambu feita à mão com design escandinavo e linhas retas, pode ser usada no exterior e no interior. Bambu tratado com óleo de madeira natural à base de água. Na Poeira Design.


6. Leque Bolga feito à mão no Gana, mede cerca de 25 x 40 cm, da Maison Flâneur.
7. Vaso da série Coco da Tine K Home, feito à mão em terracota, inspirado na estética da região mediterrânica. Em dois tamanhos.


8. Banco Lawas em madeira de teca reciclada com acabamento natural, da Westwing. Madeira de origem sustentável com certificação FSC®.
9. O cimento e o cobre combinam-se no chuveiro Aquart para exterior, da Seletti. Na Domo.

10. Tijolo Rústico 25×12 cm, textura Antique, nos tons salmão e avermelhado, da Todo Barro, indicado para utilização intensiva devido à sua ótima resistência aos choques e às cargas pesadas.


11. Capa de edredão, com riscas em dois tons de azul sobre fundo branco, 100% algodão, da Tine K Home.
12. Poltronas Caspar, parte da edição limitada da coleção House of Hackney x Nickey Kehoe, estofado com tecido 100% linho inspirado num antigo tapete persa Tabriz.


13. Almofada Fern Printed Cushio, da Design Vintagem, feita de algodão macio com um padrão impresso num tom de verde escuro e branco, rematado com um rebordo em contraste.
14. Prato Millfield da Maison Flâneur, de cerâmica, feito à mão pelo coletivo de pessoas que trabalham no estúdio da West House Pottery, em Cumbria.