Arquitetura contemporânea combina partilha e privacidade num refúgio de férias junto a um lago.
Projeto: Iván Bravo Arquitectos | Fotografia: Marcus Zegers | via Archdaily
Encomendada há uma década e construída recentemente (2023), a Casa Humo é um retiro singular no sul do Chile. Concebida para um casal que, até então, nunca tinha partilhado o mesmo teto, esta residência de férias combina intimidade e independência, explorando a paisagem natural envolvente através de uma arquitetura marcada por contrastes.
O projeto da Casa Humo foi encomendado há 10 anos, mas só ganhou forma em 2023. Curiosamente, o tempo não alterou nem os requisitos dos clientes nem o caráter do local. O casal vivia em apartamentos separados, a poucos metros um do outro, na mesma rua da capital chilena. Esta casa de férias representa, assim, a primeira experiência de partilha de espaço sob o mesmo teto.
A casa ergue-se num terreno comprido que termina num lago, ladeado por uma fileira de árvores de um lado e por um pequeno riacho do outro. A altura da vegetação e a densidade dos arbustos criam um ambiente de isolamento total, em que apenas o curso do rio indica a direção do lago, escondido por uma densa camada verde.


dicotomia e geometria
A Casa Humo nasce de um cubo de 11 metros de lado, dividido em duas faces pela diagonal. Todo o projeto gira em torno da articulação de pares opostos: abertura e proteção, partilha e privacidade. As duas fachadas maiores abrem-se para as vistas longínquas do lago e do terreno, enquanto as fachadas mais pequenas permanecem quase cegas, protegendo a entrada na extremidade mais baixa.
As áreas sociais ocupam metade do volume, num espaço aberto de pé-direito total, enquanto a outra metade distribui os espaços privados por três níveis compactos, concebidos para os proprietários e convidados.


O projeto valoriza o ato de partilhar. No piso térreo, uma grande mesa de madeira maciça, feita a partir do tronco de uma árvore caída nas proximidades, estende-se quase por todo o espaço. Serve simultaneamente como mesa de refeições e bancada de cozinha, graças a um desnível subtil no pavimento que cria a ergonomia necessária sem prejuízo do convívio.


privacidade x proximidade
No primeiro piso encontram-se os dois quartos principais, um para cada membro do casal. As portas opostas e o corredor comum criam um equilíbrio delicado entre intimidade e independência, permitindo “habitar juntos separadamente”.




No segundo nível, um espaço de estudo abre-se sobre o vazio da sala, aproveitando o triplo pé-direito. A geometria do telhado em ângulo de 45 graus torna-se evidente: num extremo, o teto desce quase até ser tocado; a poucos passos, a cobertura eleva-se até cinco metros, acentuando a dramaticidade espacial.