Os mosaicos e os tetos decorados desta casa, num bairro típico de València, ganham nova vida, numa remodelação cuidada.
Fotografia: Bacon Studio | Projeto: Hebra
A Casa Nolla é uma residência com identidade singular, que preserva e valoriza o passado num diálogo constante com o presente. O projeto, desenvolvido pelo coletivo de arquitetura Hebra, situa-se no coração de València, no bairro do Ensanche.


O edifício onde se insere é protegido e catalogado pelo seu interesse arquitetónico e ornamental, representativo do estilo casticista ou neobarroco dos anos 1930.
O objetivo central da intervenção foi adaptar a casa às novas necessidades funcionais, respeitando os elementos decorativos originais e introduzindo uma simplicidade cromática que conferisse coerência a todo o projeto.
O protagonismo do mosaico Nolla
Ao contrário de outros mosaicos, o pavimento Nolla utiliza pequenas peças cerâmicas de formas geométricas simples que dispensam cortes na colocação. Nesta casa, cada divisão apresenta um desenho próprio, mas a repetição das cores cria uma continuidade visual entre os espaços.
O coletivo Hebra decidiu introduzir paredes e carpintarias discretas, de linhas simples e cores neutras, para não competir com o mosaico, que assume o papel central no projeto.


Dada a sua forte presença estética, optou-se por introduzir paredes e carpintarias discretas, de linhas simples e cores neutras, de forma a não competir com o mosaico, assumido como protagonista do projeto.


A riqueza ornamental dos tetos originais, rico em molduras e texturas, reforça a identidade única da Casa Nolla, marcada por uma sofisticação depurada. As antigas compartimentações desapareceram, dando lugar a amplas áreas interligadas, onde as curvas e arcos estabelecem conexões visuais entre os diferentes ambientes.
Estes arcos foram inspirados nas molduras e tangentes das carpintarias originais do edifício, prolongando a sua linguagem arquitetónica. Até as aberturas para as fachadas foram redesenhadas em formato curvo, para integrar o conjunto no mesmo vocabulário visual.


Tradicionalmente, as casas do Ensanche organizavam-se com a zona noturna (quartos) virada para a rua e a zona diurna voltada para o pátio interior, mais calmo e luminoso. Nesta nova proposta, o coletivo Hebra subverteu essa tipologia, privilegiando uma vivência voltada para o exterior.


A ligação entre a zona social e a zona privada é marcada por uma porta imponente de ferro e vidro com três metros de altura, concebida numa linguagem contemporânea.




A paleta cromática mantém-se simples e acolhedora, enquanto o diálogo entre molduras e mosaicos acrescenta complexidade ao ambiente interior. O resultado é um equilíbrio entre tradição e modernidade, onde a geometria dos mosaicos Nolla contrasta e, ao mesmo tempo, se harmoniza com a simplicidade das novas intervenções arquitetónicas.