É um prenúncio de outono. Localizado numa zona de serra e com uma base que nos transporta para os anos 1980, este apartamento é também um convite a abraçar a casa como um lugar de memórias e afetos.
Projeto: Felipe Carolo / Fotografias: Ruy Teixeira
Quando o arquiteto Felipe Carolo entrou pela primeira vez neste apartamento localizado no campo, sentiu-se de volta aos anos 1980. Nada tinha mudado: do mobiliário aos eletrodomésticos — frigorífico, fogão, até a televisão — tudo parecia intacto, como se o tempo tivesse parado. Espalhados pelos quartos, ainda estavam bonecos e objetos das filhas, agora adultas. A casa era, acima de tudo, um acervo de memórias.

“A cliente foi clara desde o início”, conta-nos Carolo, “podia restaurar e reinventar os móveis, mas comprar novo só o indispensável”. Estava lançado o desafio — renovar sem apagar a história.
Conhecido pelo uso do branco e por ambientes leves, Felipe Carolo manteve-se fiel à essência do espaço, mas adaptou-o ao presente. “A casa era um coletivo de memórias e eu não tinha como mudar isso. E também não tinha um orçamento muito grande para gastar. Acho que isso levou a um resultado mais personalizado”, explica.


O primeiro passo foi resolver questões estruturais: pouco conforto térmico, canalizações antigas e uma instalação elétrica ultrapassada. Em Campos do Jordão, um município que pertence a São Paulo, no Brasil, onde fica localizado este apartamento, o inverno é rigoroso e a falta de água quente era um problema real. Grande parte do orçamento foi então para o básico — hidráulica, elétrica, rebocos — antes mesmo de pensar na decoração.



Ainda assim, quase tudo foi mantido. Nada foi descartado, apenas reinterpretado. Os objetos dos anos 1980 ganharam lugar de destaque em estantes e prateleiras, transformando-se em testemunhos da história da família. Carolo fala deste projeto como “o mais detalhado” que já fez, e destaca o fato de ter conseguido um equilíbrio ao trabalhar seis tipos diferentes de madeira sem perder harmonia.






Entre as dificuldades esteve a televisão antiga, guardada num móvel com rodinhas que a família puxava para a frente da lareira quando queria ver filmes. “Colocar uma televisão em cima da lareira, como fazem os americanos, nunca! Então desenhei um móvel inspirado num que tinha feito para mim, que permite rodar a televisão consoante a necessidade. Foi a solução perfeita”, conta o arquiteto. O sofá também pedia uma decisão e em vez do branco habitual, Felipe escolheu um verde musgo profundo, confortável e à medida do clima local.


Na cozinha, Carolo assume que arriscou mais do que o habitual. Armários verde-acinzentados com molduras de inspiração provençal convivem com um piso de terracota, num equilíbrio inesperado. As paredes receberam obras de artistas como Djanira, Keneddy Bahia, Glaucio Costa e tapeçarias latino-americanas, reorganizadas a partir da coleção da cliente. Algumas ganharam novas molduras e destaque na sala, enquanto outras foram colocadas nos quartos, combinadas com roupa de cama bordada em cores fortes.



Nos espaços de banho, a estética original dos anos 1980 foi respeitada, mas atualizada: azulejos brancos 20 x 20 cm trouxeram unidade, enquanto armários em carvalho americano conversam com bancadas e loiças já existentes.


A iluminação também mereceu atenção especial e entre memórias e renovações, este apartamento é hoje um lugar de conforto sem perder o seu passado.