A mostra intitulada “SUL | Espectros Além do Tejo”, estará patente de 27 de setembro de 2025 a 10 de janeiro de 2026, espalhada por vários espaços de Santiago do Cacém, rompendo fronteiras físicas para partilhar a arte com todos, transformando a cidade numa galeria viva. A curadoria é de Ricardo Gritto.
De 27 de setembro de 2025 a 10 de janeiro de 2026, Santiago do Cacém recebe a exposição “SUL | Espectros Além do Tejo”, de Alfredo Moreira da Silva, com curadoria do Doutorando da FBAUP Ricardo Gritto.


A mostra celebra não apenas os 50 anos da obra de Alfredo Moreira da Silva, como também 50 anos de um olhar herdado de avós e pais, feito de memórias e cores únicas, transformado em legado: um diálogo entre passado e presente, tradição e criação, onde a floresta se torna tela, a memória se transforma em futuro e a vida inteira se revela como obra em constante florescimento.




O título da exposição remete para um imaginário poético e universal. “Espectros” são memórias e presenças invisíveis que atravessam o tempo e o espaço; “Além do Tejo” evoca um deslocamento simbólico, um olhar que parte do Sul, onde Alfredo criou raízes, para dialogar com o mundo. O nome condensa o espírito desta celebração: uma vida e uma obra que são simultaneamente íntimas e coletivas, locais e globais, memória e futuro.
Sobre o artista
Alfredo Moreira da Silva nunca foi apenas uma coisa. É artista plástico, agricultor, cozinheiro, construtor de espaços e de encontros, homem de ação e contemplação. A sua vida é feita de camadas tão diversas quanto as tintas que aplica nas suas telas.

Se o seu trabalho artístico tem sido descrito como uma forma de abstração emocional, mais próximo daquilo que sentimos do que daquilo que vemos, a sua vida no Alentejo tornou-se, em paralelo, uma grande obra coletiva: a Herdade da Matinha, no Cercal do Alentejo, um espaço onde arte, natureza e hospitalidade se confundem.

Nascido no Porto em 1958, filho de um arquiteto paisagista e herdeiro da tradição da Casa Moreira da Silva, fundada no século XIX e famosa pelas suas coleções de camélias, hortos e viveiros, Alfredo cresceu entre projetos de paisagem e jardins. Essa herança revelou-se essencial quando, nos anos 1990, decidiu abandonar o Porto com a mulher, Mónica Belleza, e o filho pequeno, Vicente, para se instalar num vale árido e aparentemente sem futuro.

Contra todas as evidências, acreditou no potencial daquele lugar. Reconstruiu uma ruína, plantou mais de 55 mil árvores e iniciou um processo de regeneração de solos e ecossistemas que hoje se traduz em 110 hectares de floresta atlântica. Ao mesmo tempo, foi enchendo as paredes de quadros, as mesas de partilha e os dias de uma filosofia de vida que recusa a pressa: viver devagar, viver com os outros, viver em ligação com a terra.


A passagem pela Escola de Artes e Ofícios Soares dos Reis, no Porto, deu-lhe ferramentas técnicas, mas o seu percurso nunca foi linear. Passou pelo design têxtil e pela arquitetura antes de se entregar plenamente à pintura e às artes plásticas. Mais do que representar o visível, as suas telas evocam estados de espírito, memórias, sensações. As cores, ora vibrantes, ora subtis, surgem em camadas que se sobrepõem como o tempo, criando uma linguagem íntima e, ao mesmo tempo, universal.


Pintar, para Alfredo, é um gesto vital. “Aprendemos a pintar antes de aprender a ler”, diz. A sua pintura não ilustra, mas propõe encontros: entre o íntimo e o coletivo, entre a emoção e a paisagem. O estúdio no coração da floresta alentejana é extensão desta prática: a tela e a terra são trabalhadas em paralelo, num processo lento e deliberado, onde o tempo não é obstáculo, mas condição.