Instalado em Lisboa desde 2022, Pedro viu na mudança de país não apenas um novo território físico, mas um campo fértil para novas narrativas. O artista mantém uma devoção ao trabalho manual — à lentidão, ao gesto, ao processo.
Texto: Isabel Pilar de Figueiredo
Pedro de Alcântara Fleury, nascido em 1995 em Goiânia, Brasil, é uma das vozes mais intrigantes da arte contemporânea luso-brasileira. Com nove anos de trajetória profissional, o artista construiu uma linguagem visual marcada pelo detalhe técnico e por uma investigação simbólica profunda. A sua obra cruza psicanálise, erotismo e o universo do quotidiano, numa constante exploração dos limites da forma, do corpo e da memória.


Instalado em Lisboa desde 2022, Pedro viu na mudança de país não apenas um novo território físico, mas um campo fértil para novas narrativas. A exposição O Mistério é a Moeda é reflexo dessa transição: uma série de obras em papel e uma instalação com azulejos portugueses do século XVIII que questionam pertença, tempo e identidade. Do pavão no jardim ao bilhete de comboio, o artista transforma o banal em simbólico, o transitório em permanente.

Fleury mantém uma devoção ao trabalho manual — à lentidão, ao gesto, ao processo. Para ele, a arte não se reduz ao objeto final, mas vive no percurso, na repetição, na dedicação obsessiva ao detalhe. Entre nanquim e folha de ouro, o artista reclama a beleza do fazer com as mãos, em contraste com a produção acelerada da era digital. “A inteligência artificial pode simular uma imagem, mas nunca o enredo de um processo”, afirma. O seu maior desejo? Firmar raízes em solo português e continuar a partilhar obras que desafiam o olhar e despertam sentidos.