Por a 15 Agosto 2025

No coração de Brasília, uma casa ergue-se como se sempre tivesse feito parte da paisagem. Feita de terra crua, madeira e luz, a Casa Taipa, assinada por Valéria Gontijo + Arquitetos, combina técnicas construtivas ancestrais com um olhar minimalista e contemporâneo.

Projeto: Valéria Gontijo + Architects / Fotografias: Front / Texto: Ana Rita Sevilha

No Lago Sul, em Brasília, ergue-se uma casa que parece nascer da própria terra onde assenta. Projectada por Valéria Gontijo + Arquitetos, a Casa Taipa é um manifesto em defesa de uma arquitetura sensorial, enraizada e consciente. Um convite a abrandar, a viver em comunhão com a paisagem e a sentir — na pele, nos olhos e no silêncio — a essência de habitar.

Com 620 m² dispostos num só piso, a moradia foi encomendada por um casal que queria mais do que uma segunda casa: procurava um refúgio funcional, compacto e intimamente ligado à natureza. O terreno, em declive e com vistas abertas para o Lago Paranoá, inspirou uma implantação em ‘L, que respeita a escala da envolvente e transforma a materialidade no centro da experiência.

A técnica construtiva escolhida — taipa — não é apenas um recurso estético, mas a alma do projeto. Este método ancestral, que compacta terra crua em moldes de madeira, recorre ao próprio solo do local. Para além da evidente sustentabilidade, garante conforto térmico e acústico, criando um ambiente fresco no verão e acolhedor no inverno. “Queríamos fugir aos códigos previsíveis do betão e da pedra”, explica Valéria. “A taipa permite experimentar e, ao mesmo tempo, manter a pureza das formas.”

O programa é simples e pensado ao milímetro: duas suítes, sala de estar aberta à área gourmet, cozinha, lavandaria, alpendre coberto, garagem para dois automóveis e piscina. Os espaços fluem entre si, favorecendo o convívio. Os pés-direitos mais baixos e a escolha dos materiais — granito rústico, madeira de demolição e muxarabis — criam uma atmosfera calorosa e tátil. O espaço gourmet, integrado na zona social, é o epicentro das vivências da casa. “Este é um lugar para receber, para celebrar”, sublinha a arquitecta. “Sente-se a textura das paredes, o som suave no interior, a luz filtrada… é uma casa que abraça.”

A obra foi executada por mão-de-obra local, com a orientação técnica do próprio cliente, que participou ativamente no processo. O protótipo inicial nasceu de uma investigação com especialistas em São Paulo, mas foi em Brasília, com profissionais conhecedores de técnicas vernaculares — como as usadas na Chapada dos Veadeiros — que a casa ganhou forma.

A Casa Taipa é apenas a primeira de quatro residências que irão compor um conjunto familiar no mesmo terreno. Originalidade, simplicidade e sentido de permanência serão o fio condutor desta pequena aldeia privada. Ao cruzar um saber construtivo centenário com desenho contemporâneo e materiais cuidadosamente escolhidos, o projeto propõe uma nova forma de habitar: mais consciente, mais sensível e, sem dúvida, profundamente brasileira.