Por a 4 Agosto 2025

Meio casa, outro meio galeria. O projecto desta residência traduz-se numa habitação onde arte e arquitetura se fundem num equilíbrio raro. Um espaço pensado não apenas para morar, mas para viver com beleza — entre obras, memórias e história.

Projeto: Dois Arquitetura / Fotografias: Denilson Machado

No coração de São Luís, no Maranhão, ergue-se uma casa onde a arquitetura é pano de fundo e a arte, protagonista. O projecto, assinado por José Ribeiro — do escritório Dois Arquitetura — foi concebido à medida para o casal Marco Antônio Lima e Fátima Lima, reconhecidos nomes no universo da arte e da decoração local. Ele, à frente da Lima Galeria de Arte; ela, fundadora da loja de interiores Espaço Fátima Lima.

A casa simboliza uma amizade de mais de duas décadas entre os proprietários e o arquiteto: “Fomos apresentados por um casal amigo, também ligado ao design, e desde então tenho acompanhado a família em diversos projectos”, conta José Ribeiro. Esta residência, em particular, tem um valor emocional acrescido: foi um dos últimos trabalhos que assinou em parceria com Yamara Santos, sua esposa e sócia, falecida há três anos.

Com 890 m² de área construída, a moradia nasce num terreno de 1.500 m² e foi pensada para acolher com conforto e elegância a rotina de um casal habituado a viver entre obras de arte e peças de design brasileiro. A decisão de sair de um apartamento para uma casa foi motivada, sobretudo, pelo desejo de mais espaço para o acervo — que já ultrapassa as 300 peças — e pela procura de uma vivência mais integrada e luminosa.

Distribuída por dois pisos, a residência explora com inteligência a topografia acentuada do terreno. O acesso pode ser feito tanto pela parte superior quanto inferior, revelando, logo à entrada, o cuidado com a fluidez dos espaços. No piso térreo, encontram-se os ambientes sociais — sala de estar, sala de jantar, cozinha integrada —, a biblioteca, três suítes e áreas de serviço. No piso superior, ficam o escritório, a garagem e uma ampla galeria de circulação.

“O ponto de partida foi sempre o acervo dos clientes”, explica o arquiteto. “Queríamos uma arquitetura limpa, sem ornamentos, que privilegiasse a luz natural, as superfícies neutras e os materiais discretos, para deixar que a arte respirasse.” O resultado é uma casa onde a sobriedade estética destaca, sem competir, as obras cuidadosamente selecionadas pelos moradores.

A volumetria branca, os elementos em betão e os detalhes em pedra natural conferem um ar contemporâneo à construção, enquanto o pé-direito generoso e os grandes vãos de vidro garantem luminosidade e uma sensação de leveza. A sala principal, ampla e aberta, evoca uma verdadeira galeria: paredes livres acolhem pinturas, esculturas e fotografias em constante rotação.

No mobiliário, a curadoria revela o olhar experiente dos proprietários: peças icónicas do design brasileiro, como a poltrona Fardos, de Ricardo Fasanello, e sofás de Jader Almeida, convivem com preciosidades vintage, como as quatro poltronas de Giuseppe Scapinelli, que ocupam lugar de destaque na área de estar. Tudo escolhido com critério, respeitando uma paleta cromática neutra, dominada pelo branco neve nas paredes.