Por a 13 Agosto 2025

A casa de Mónica Penaguião, designer e fundadora da Poeira, reflete a sua abordagem única ao design. Localizada em Alfama, Lisboa, ocupa 230m² de um edifício pombalino do século XVIII, onde Mónica fez questão de preservar elementos originais e jogar com a cor, mantendo um diálogo constante com a história do espaço. A reportagem fotográfica é de Gui Morelli.

Projeto: Mónica Penaguião / Produção: Amparo Santa-Clara / Fotografias: Gui Morelli / Texto: Isabel Pilar de Figueiredo

“Quando entrei, a casa não tinha uma identidade própria, um conceito definido. O objetivo foi encontrar um estilo que fosse meu, que se conectasse com a cidade e, acima de tudo, com o meu estilo de vida. Trabalhei as paredes, os frisos e os tetos para recuperar o máximo possível da traça original”, explica Mónica, que liderou o projeto de renovação do imóvel — um processo que durou três anos devido ao estado de degradação do apartamento.

A escolha de cores das paredes foi um dos pontos-chave. Mónica optou por tonalidades da Farrow & Ball, para um efeito de continuidade e harmonia, alinhando-se com a sua abordagem mais eclética e menos rígida. 

Os três quartos com casa de banho, além da social, e a cozinha integrada na grande sala resumem bem a sua abordagem autêntica. “Tudo aqui foi pensado ao detalhe e desenhado à medida”. É o caso da cozinha partilhada com a sala comum, com uma organização que assegura amplitude visual, funcionalidade e estética. “Cada elemento foi desenhado para garantir que tudo se encaixasse no espaço e correspondesse às minhas necessidades e dos meus filhos.

O design do espaço, embora contemporâneo, mantém um forte vínculo com a história do edifício. A casa de banho do seu quarto é outro exemplo de como conciliar o passado com o presente. O espaço, que originalmente fazia parte de uma entrada de igreja, apresenta pedras do século XVII e XVIII, que Mónica recuperou e integrou no projeto. “Recuperei as pedras e esculpi o duche nelas. A banheira independente e a bancada de pedra verde dão um toque contemporâneo ao ambiente.” 

Mónica tem uma ligação muito pessoal com as peças que escolhe para os seus espaços. Muitas delas foram adquiridas ao longo do tempo, na sua maioria ‘vintage’, outras são obras de arte, como as do artista visual John Baldessari, ou luminárias de design, como as do brasileiro Sergio Massa, e dialogam com as muitas texturas, cores e padrões dos tecidos e das peças desenhadas para o projeto, como os sofás, cadeiras ou camas. “Todas as peças na minha casa foram, e são, selecionadas de forma cuidadosa, tal como faço para a Poeira. Tudo é desenhado ou escolhido por mim. A minha casa é um reflexo do meu trabalho e da minha loja”, explica. 

Além das peças vintage ou de edição limitada, Mónica utiliza, ainda, tapetes feitos à medida, design Poeira, e vários acessórios de marcas que representa, como as velas Fornasetti. “Esta casa é parte do meu trabalho na Poeira. Cada peça tem uma história e uma função, o que permite um equilíbrio perfeito entre o funcional e o estético.” 

Para ela, o conceito de ‘casa acabada’ não existe. “Estou sempre a mudar as coisas. Compro novas peças, troco outras, e faço ajustes conforme encontro elementos que se encaixem melhor. O design é um processo contínuo”, afirma. Esta constante evolução confere ao espaço um caráter dinâmico. Aqui, a estética privilegia a funcionalidade e esta casa é um exemplo claro de como o design é uma extensão da personalidade e do estilo de vida de quem o habita. Despojado, funcional, e sempre confortável.