Por a 19 Agosto 2025

Na Lapa, um dos bairros mais emblemáticos de Lisboa, o apartamento de Francisco de Tavares – advogado, empreendedor e apaixonado por arte – conta uma história de vida marcada por viagens, memórias e estética apurada. 

Fotografias: Nuno Martinho / Produção: Amparo Santa-Clara / Texto: Isabel Pilar de Figueiredo

O que começou por ser um investimento tornou-se, desde 2018, o seu lar e o cenário de uma vida cheia. Adquirido num gesto quase cinematográfico – negociado com um aperto de mão a proprietários chineses, sem sequer o ter visitado –, o apartamento revelou-se tudo aquilo que Francisco procurava: luz abundante, uma localização privilegiada junto ao rio Tejo e, sobretudo, uma vista icónica para a ponte 25 de Abril e o Cristo-Rei. “Ilumina-me a vista durante a noite”, confessa. 

Descrever a sensação de viver neste espaço resume-se, para Francisco, em três palavras: desafogo, vista, urbano. O interior reflete essa tríade de forma subtil e sofisticada. Não houve um projeto fechado ou um conceito rígido, o espaço foi-se moldando naturalmente, traduzindo a personalidade do seu habitante. O resultado é uma harmoniosa fusão entre o contemporâneo e o clássico, entre memórias afetivas e design funcional. 

Na sala, o ex-libris da casa é uma chaise-longue estrategicamente colocada junto à janela, onde Francisco se perde na contemplação noturna da cidade e do Tejo. É o seu canto favorito – o lugar onde o tempo abranda. A casa também conta com um notável acervo artístico, com obras de nomes como Noronha da Costa, Manuel Caeiro, Monica de Miranda ou Maisa Champalimaud, entre outros. Mas há peças que transcendem o valor artístico: uma mesa de centro desenhada pelo próprio, executada numa antiga serralharia onde foi administrador; uma secretária ‘arte nova’ da bisavó; uma espingarda herdada do avô aos sete anos; e uma coleção de discos de vinil que ecoa a banda sonora da sua infância e o amor pela música brasileira. 

A decoração seguiu um percurso fluido, pautado por pequenas intervenções: a junção de dois quartos para criar uma suíte espaçosa, por exemplo, ou a cuidadosa seleção de mobiliário que conjuga conforto e caráter. “Uma casa tem de ser acolhedora”, diz. “Quis aquela sensação de conforto quando abrimos a porta.” 

Mais recentemente, a adição de têxteis e almofadas, fruto da colaboração com a amiga Luísa Castro (Luísa Castro Design de Interiores), trouxe uma nota de frescura ao espaço e a sempre desejada revitalização do ambiente, com subtileza e elegância. “Sem obras de fundo, mas com um efeito transformador”, acrescenta. 

Para os convidados, a vista surpreende sempre – o Cristo-Rei iluminado parece saudar quem entra. “É como se estivéssemos no Rio de Janeiro, mas entre o Hotel da Lapa e a Infante Santo”, brinca. Neste apartamento, Francisco criou uma nova vida. Um espaço onde as suas vivências – de Lisboa a Luanda, de Londres a Cascais – encontram morada. Um verdadeiro oásis urbano, onde o passado e o presente se cruzam em cada detalhe.