O mais recente projeto de Clément Lesnoff-Rocard é um grande apartamento familiar no coração de um edifício Art Nouveau no 5º arrondissement de Paris. Totalmente redesenhado, este espaço ilustra com maestria o pensamento e as tendências arquitetónicas de Lesnoff-Rocard, simbolizados pela fusão poética entre a técnica e a arte do ornamento.
Projeto: Clément Lesnoff-Rocard / Fotografias: Stéphane Ruchaud
No coração do 5.º arrondissement de Paris, a poucos passos do Panteão, um apartamento familiar de 160 m² ganhou nova vida pelas mãos do arquiteto Clément Lesnoff-Rocard. Instalado num edifício Art Nouveau, este espaço clássico foi completamente reinventado — transformando-se num universo poético onde a técnica e a ornamentação se entrelaçam com ousadia e sensibilidade.


Com carta branca para intervir, Lesnoff-Rocard não hesitou em conduzir uma metamorfose total: onde antes havia divisões convencionais e uma linguagem clássica, nasceu um espaço contemporâneo com forte identidade visual e narrativa. Cada divisão é uma pequena história em si mesma — como a sala de estar, ampla e luminosa, que parece levitar sobre um soalho envernizado de branco, ou o surpreendente salão ‘Cesar’, onde uma escultural banheira de mármore coabita com funções de escritório e zona de receção, numa evocação direta às antigas termas romanas.


A luz foi um dos elementos-chave da intervenção. Aberturas estruturais arrojadas deram fluidez e profundidade ao layout, permitindo um jogo dinâmico entre materiais contrastantes: pedra exposta, betão arquitetónico, vigas de aço, mármores frios e superfícies espelhadas convivem com cortinas fluidas, texturas naturais e um imponente fogão em ferro fundido, no centro de uma cozinha revestida a aço inoxidável. O resultado é uma composição poderosa entre o quente e o frio, o polido e o áspero, o sofisticado e o bruto — num equilíbrio estético que surpreende e seduz.


Mas é na narrativa visual que o projeto mais se distingue. Lesnoff-Rocard explora o conceito de mise en abyme com sutileza e humor, criando camadas de significado e surpresa ao longo do apartamento: espelhos escondidos atrás de redes translúcidas, um banco em forma de concha que evoca o Nascimento de Vénus de Botticelli, uma janela de casa de bonecas espreitando num corredor, ou referências cinematográficas como Alice no País das Maravilhas e As Aventuras do Barão de Münchhausen.




O mobiliário, desenhado à medida, convive com peças de artistas e designers contemporâneos como Marc Leschelier, Ira Bo, Héloïse Piraud, Sophie Dries, Apparatus Studio e Kym Ellery. A seleção inclui ainda clássicos do design, como o icónico sofá Osaka, de Pierre Paulin — um exemplo de como passado e presente dialogam com liberdade e irreverência em cada canto da casa.




Entre detalhes clássicos e intervenções radicalmente contemporâneas, este projeto revela-se como uma reinterpretação singular da Art Nouveau. Mais do que um apartamento, é uma declaração de estilo e imaginação — um espaço onde a arquitetura se torna narrativa, e onde cada pormenor convida à contemplação.