Por a 16 Julho 2025

Concebida pelo atelier GO’C, a Blatto Boat é uma casa flutuante que partiu de um exercício minucioso onde a engenharia naval e a arquitetura em miniatura se encontram. Desenhada com precisão náutica, aqui todos os centímetros contam e foi ainda precisa uma sensibilidade extra que só no design se encontra. As fotografias são de Andrew Pogue.

Projeto: GO’C Studio / Fotografias: Andrew Pogue

No extremo norte do Lake Union, em Seattle, um barco dos anos passados dá agora lugar a um modo de habitar inesperado, engenhoso e profundamente poético. A Blatto Boat, concebida pelo atelier GO’C, é mais do que uma simples casa flutuante: é um exercício de arquitetura em miniatura, onde cada centímetro cúbico foi pensado com precisão náutica — e sensibilidade doméstica.

Com uma área limitada, com perto de 45m2, o projeto partiu da estrutura existente de um barco e transformou-se num verdadeiro desafio tridimensional. Como criar uma casa confortável e funcional num espaço tão reduzido, onde o teto, o chão e as paredes obedecem às regras da engenharia naval? A resposta está no detalhe. Na inteligência do layout. E na forma como o design serve a vida — e não o contrário.

A casa assenta sobre um casco de aço de 1,20 metros, permitindo que o piso principal fique abaixo da linha de água. Esta solução não só reduz o centro de gravidade — vital para a estabilidade da estrutura — como também garante um acesso confortável a meio nível, diretamente a partir do pontão. Ao ritmo das estações, o nível do lago sobe e desce cerca de 60 centímetros, o que transforma o acesso numa entrada flexível, por vezes nivelada, por vezes elevada com recurso a uma escada móvel.

Ao entrar, percebe-se imediatamente o domínio do espaço. A escada, desenhada à volta da casa de banho central, cria zonas de arrumação e organiza os fluxos da casa. Nada é desperdiçado. Tudo tem função. Como num camarote bem desenhado, a arquitetura trabalha com e não contra a escala.

A cozinha, em “L”, é generosa e social — pensada para alguém que adora cozinhar e valoriza o tempo em casa. A marcenaria estende-se até uma zona de estar com bancos embutidos, junto a portas de correr que se abrem para o deque. Uma ilha móvel funciona como bancada, mesa de refeições ou secretária, consoante a hora do dia ou o estado de espírito. Até os peitoris das janelas ganham novo uso, transformando-se em estantes para livros e objetos.

No piso superior, o quarto dá continuidade à linguagem do projeto, com armários e mesas de cabeceira integradas. Aqui, mais uma vez, o gesto arquitectónico é discreto, mas firme: um grande envidraçado abre-se para um terraço generoso, onde a vista se impõe — e os encontros se celebram. Um acesso exterior permite que os convidados cheguem a este espaço sem passar pelo quarto, e uma segunda escada conduz ainda a um terraço privativo mais elevado, pensado para pequenos cultivos e momentos de contemplação com vista para o skyline de Seattle.

Num cenário onde outras houseboats se aglomeram, a luz natural e a privacidade foram abordadas com engenho. Janelas altas percorrem o piso inferior, deixando entrar luz sem expor o interior. Uma claraboia posicionada estrategicamente no centro da sala intensifica essa sensação de abertura, desmentindo o que se poderia esperar de um espaço tão compacto.

A Blatto Boat foi construída em terra firme e depois içada para a água, onde o seu lastro foi cuidadosamente ajustado com base no peso total da construção. Hoje, flutua com leveza e carácter — um exemplo raro de como a arquitetura pode ser pequena em escala, mas enorme em ideias.