“ALTINHA – A coreografia do Esporte” é o nome da exposição que a artista brasileira Tanara Stuermer vai inaugurar a 2 de agosto no Stork Club, na Comporta. A mostra ficará patente até 15 de setembro.
Na praia, entre o som das ondas e o calor que sobe da areia, desenha-se um jogo de leveza e precisão: a Altinha. Nascida nas areias cariocas na década de 1960, esta prática desportiva é muito mais do que um simples passatempo. É um espectáculo de cooperação e fluidez, onde os jogadores, descalços e quase em transe, mantêm a bola no ar, como se segurassem o próprio tempo entre os dedos dos pés. Sem competição, sem pontuação, sem vencedores – apenas o pacto silencioso de não deixar a bola cair.


Foi a partir desta coreografia espontânea que nasceu esta exposição, que estará patente a partir do dia 2 de agosto no Stork Club, no Carvalhal, Comporta. Ao observar os corpos em movimento, Tanara Stuermer não viu apenas o gesto técnico, mas uma partitura visual onde ritmo, repetição e improviso se fundem num bailado colectivo. Daí nasceu a ideia de sobrepor imagens, diluí-las em papel vegetal, recortar e reconstruir. Cada fotografia passou a ser fragmento de um movimento maior – notas visuais que, em conjunto, compõem uma narrativa pulsante, quase musical. Por vezes, parece que os jogadores acertam a bola ao som de um berimbau, numa ladainha que ecoa na areia e nos corpos em acção.

Esta investigação visual dialoga com os estudos pioneiros do movimento de Eadweard Muybridge e Étienne-Jules Marey, mas com uma expressividade tropical própria. O gingado da Capoeira cruza-se com os gestos da Altinha. Chuto, esquiva, cabeceamento, tesoura. Os limites do corpo são testados, mas sempre em comunhão – nunca em confronto.

Ao aproximar a Altinha da Capoeira, a artista desafia as fronteiras entre desporto, dança e ritual. Ambas as práticas são inclusivas, democráticas, feitas do encontro entre corpos e do compromisso implícito com a escuta e a adaptação. É neste espaço de harmonia que se constrói algo raro: a transformação do gesto em linguagem, e do jogo em arte.

Neste trabalho, a praia deixa de ser mero cenário e torna-se parceira. Acolhe, molda e embala o movimento. E os jogadores – agora também bailarinos – revelam a beleza escondida no simples acto de manter uma bola no ar.