Por a 30 Junho 2025

O que seria apenas um armazém de 110 m² acabou suspenso a oito metros do solo. É aqui, neste loft minimalista, fluido e luminoso, que o arquiteto Júnior Piacesi encontra refúgio aos fins de semana.

Projeto: Piacesi Arquitetura / Fotografias: Estudio NY18 / Texto: segundo memória descritiva

À primeira vista, o plano era simples: uma casa de campo, 250 m² de residência principal, e um armazém de apoio, ao fundo, para materiais e ferramentas. Mas bastou começar a obra para que o arquiteto Júnior Piacesi se deixasse surpreender pelo terreno que comprou em 2020, num distrito próximo de Belo Horizonte, no Brasil. A propriedade de 2.000 m² acabou por se revelar generosa em paisagens e desníveis, e foi precisamente num desses pontos inclinados que tudo mudou.

O que seria apenas um armazém de 110 m² acabou suspenso a oito metros do solo — à altura das copas das árvores. A vista arrebatadora e a intensa relação com a natureza redefiniram o projeto. Em vez de um espaço de apoio, nasceu um loft minimalista, fluido e luminoso, completamente aberto ao verde e à envolvência natural. “A ideia do projeto foi trazer simplicidade para dentro de casa, convidar a colocar os pés no chão, sentar para ver o pôr do sol, apreciar as árvores iluminadas à noite, ouvir o som dos bichos”, partilha Piacesi. “Tudo isto me traz uma paz interior indescritível, recria a noção de tempo, que parece desacelerar.”

O loft, com 110 m², traduz-se numa ode ao essencial e ao sensorial. A construção aposta no cimento branco, presente tanto no pavimento como nas casas de banho, e numa paleta neutra, clara e acolhedora. Materiais naturais como madeira, couro, linho, algodão e fibras vegetais marcam presença de forma subtil, criando uma atmosfera serena e táctil. No mobiliário, há espaço para peças icónicas do design brasileiro, como a poltrona Jangada, de Jean Gillon, as banquetas Tajá, de Sergio Rodrigues, e cadeiras de balanço vintage, descobertas num mercado.

Fiel ao seu contexto geográfico e cultural, o arquiteto escolheu adornos e objetos utilitários que homenageiam o saber-fazer mineiro: cerâmicas, louças de pedra-sabão e artesanato local povoam o espaço com identidade e autenticidade. A cada hora do dia, a luz natural percorre o interior com novas nuances, desenhando sombras que transformam o ambiente — como uma instalação em permanente mutação.

Hoje, é aqui que Júnior Piacesi encontra refúgio aos fins de semana. O loft conta com uma zona social integrada à cozinha, duas suítes e uma pequena lavandaria, discretamente escondida por um painel de madeira teca que se estende até à varanda, ocultando também a entrada dos quartos. A vivência do espaço é, para já, uma experiência em curso: “Quero perceber se esta casa suspensa me basta como refúgio. Se sim, não vou construir mais nada.” E talvez não seja preciso. Afinal, entre as árvores, o tempo abranda — e a vida também.