O loft urbano de Russell Kaplan aloja um banquete visual eclético, entre design vintage e arte contemporânea.
Texto: Nechama Brodie / bureaux.co.za | Fotografias: Greg Cox / bureaux.co.za | Styling: Sven Alberding / bureaux.co.za
Russell Kaplan, ex-negociante de antiguidades e, atualmente, proprietário de uma casa de leilões especializada em belas-artes, antiguidades e colecionáveis, tem um olhar apurado para os detalhes, um faro para tesouros escondidos e um conhecimento quase enciclopédico do design do século XX e da arte contemporânea. No início dos anos 2000, quando Russell começou a procurar uma nova casa no coração do centro histórico de Joanesburgo, o investimento e a confiança na área estavam em baixa – assim como os preços dos imóveis. Ironicamente, isso só tornou a sua busca ainda mais difícil. “Naquela altura, só se podia comprar edifícios inteiros”, relembra. “Não existiam volumes fracionados, penthouses ou sequer andares individuais.” Para piorar a situação, o excesso de edifícios antigos – muitos dos quais tinham sido abandonados – tornava quase impossível obter um financiamento bancário. “Tudo tinha de ser comprado a dinheiro”, explica Russell, o que tornava a maioria dos imóveis inacessíveis para compradores individuais. “Olhando para trás”, acrescenta, com alguma nostalgia, “eram vendidos por quase nada.”


Após dois anos de tentativas frustradas, Russell desistiu. “Acabei por comprar um terreno nos subúrbios”, conta. “Sempre pensei que se deveria viver no centro da cidade, mas não parecia que Joanesburgo algum dia se tornaria essa cidade.” Então, um dia, recebeu uma chamada de uma agente imobiliária que dizia ter encontrado exatamente o que ele procurava: um novo empreendimento em Braamfontein, a norte da principal estação ferroviária da cidade. “Quando visitei o local, era um edifício de escritórios assustador, sem janelas, com paredes divisórias a desfazer-se e pisos cinzentos”, lembra Russell. “Mas adorei! Vendi o meu terreno nos subúrbios, comprei o andar e reinventei completamente o espaço. Para mim, foi como comprar um pedaço de terra no céu.”



As únicas restrições ao projeto de Russell relativamente aos seus 295 m2 eram os pontos fixos de eletricidade e canalização, que atravessavam verticalmente os sete andares do edifício (todos vendidos como apartamentos individuais). Fora isso, o espaço era uma tela em branco – algo que Russell abraçou de imediato.




“Queria manter tudo bastante aberto”, explica. A sua renovação inicial, realizada em parceria com um arquiteto, concentrou-se na infraestrutura básica: instalação da cozinha e da casa de banho, e uma divisão discreta entre a área de estar e o quarto – inicialmente separados apenas por uma cortina. Russell também criou uma pequena varanda protegida na parte de trás da casa de banho, para um necessário espaço “ao ar livre”. Com o tempo, a forma como habitava o espaço foi evoluindo. “Quando me mudei, era muito mais minimalista”, comenta, observando o interior que, ao longo dos anos, foi ganhando uma coleção surpreendentemente diversa de móveis, biombos e objetos curiosos. Chinoiserie combinada com vidro italiano, totens africanos, madeira escandinava… “É assim que o meu olhar observa as coisas”, diz. “Faz parte de quem eu sou. Eu coleciono, acumulo, desfruto dos objetos.”

Há toda uma galeria de arte que invade as paredes, mesas e até o chão. A coleção pessoal de Russell – uma mistura de encomendas, aquisições e descobertas inesperadas – é um catálogo dos maiores nomes da arte sul-africana: do escultor Edoardo Villa ao ícone multimedia William Kentridge e ao pintor Robert Hodgins. A coleção também inclui obras de Penny Siopis, Brett Murray, Joni Brenner, Steven Cohen, Conrad Botes, Serge Alain Nitegeka, Jodi Bieber e Simon Stone, entre outros.




O bairro onde Russell vive também mudou drasticamente nos nove anos desde a sua mudança. Outrora marginal, Braamfontein prospera hoje como um distrito vibrante de residências, lazer, negócios, arte e cultura. Com essa renovação veio, contudo, um aumento menos desejado em termos de poluição sonora, algo que Russell resolveu ao instalar novas persianas e fechando o seu quarto. “Acho que hoje aprecio um pouco mais a privacidade”, admite. “Mas também se tornou um espaço aconchegante e confortável. Posso fechar a porta e não sentir que estou a viver num corredor!”


Outras adições recentes incluem a aquisição de um tapete para a sala. “Fiquei nove anos sem um tapete”, revela Russell. “Até que finalmente percebi que o espaço precisava de um.”




Não é surpreendente que tenha demorado tanto a olhar para baixo. Quase toda a parede sul do apartamento é de vidro, do chão ao teto, oferecendo uma vista impressionante da cidade – uma paisagem de arranha-céus, pontes de aço e um fluxo constante de tráfego. A luz reflete-se nas superfícies espelhadas do interior, criando uma interação fascinante entre o espaço interno e a cidade lá fora. “Mesmo antes de me mudar, sentava-me no sofá e, simplesmente, observava”, recorda. “Era quase como olhar para o oceano. A cidade tem um ritmo e um movimento constantes.”