Por a 19 Maio 2025

O coletivo Rita Valadão Arquitectura & Interiores assina este projeto em Lisboa, destinado a um empresário com 40 anos na hotelaria de luxo, na Europa e Médio Oriente. 

Projeto: Rita Valadão / Fotografia: Ricardo Oliveira Alves / Texto: Isabel Figueiredo

Era desejado descompartimentar as duas principais áreas do apartamento, ganhar maior amplitude e uma comunicação direta entre a área social e a cozinha — que passou a ser em ‘open plan’ —, considerando uma zona de lavandaria, bem como transformar a suíte principal, o closet e o quarto de banho num espaço integrado, cénico e ousado. “O projeto foi concebido para um homem com 40 anos, líder global na hotelaria de luxo na Europa e Médio Oriente, com um olhar apurado para a qualidade, o detalhe e a distinção”, diz-nos Rita.

Partilhando esta visão com um parceiro igualmente dedicado – um instrutor de fitness premiado, focado na performance e no equilíbrio – o projeto alia requinte e ergonomia, originando espaços que elevam o bem-estar e a experiência quotidiana. O T2 duplex, localizado numa das melhores artérias de Lisboa, obedeceu a um plano de restruturação cuidado: a cozinha foi alvo de uma transformação estrutural — a parede que separava a cozinha do hall/corredor foi eliminada, para maior fluidez visual e espacial; Os armários, antes dispostos de forma convencional, foram destinados para a parede oposta, formando um layout em L. “No lugar da antiga parede, foi criado um balcão de apoio, marcado por uma pedra natural magnífica, que desempenha múltiplas funções: espaço para pequenas refeições, apoio prático para o dia a dia e ponto de convívio”.

Para reforçar este conceito, “desenhámos uma peça em latão, suspensa sobre o balcão, destinada à arrumação dos copos, evocando a atmosfera dos grandes bares clássicos”. Neste processo, foi decidido delimitar o espaço através do pavimento, sem recorrer a barreiras físicas (como as paredes), estendendo o Dekton para além da área da cozinha, o que cria uma transição subtil, mas impactante, entre materiais. Por seu turno, as riscas em diferentes cores funcionam como um contorno ousado, marcando a passagem do Dekton para a madeira; no ponto culminante desta curva evidente, encontra-se a mesa de jantar, perfeitamente integrada, como se o próprio desenho da cozinha conduzisse naturalmente ao centro das refeições e do convívio.  

Também na suíte as mudanças foram marcantes. “A entrada do espaço de banho foi reposicionada, passando do corredor para dentro do quarto, o que permitiu uma ampliação notável”. Hoje, o ambiente integra duche, área privada e zona comum, onde a generosa bancada se estende, culminando numa banheira de chão, colocada num ponto estratégico que valoriza a amplitude do espaço. 

O closet original, exíguo e com um teto esconso, foi eliminado, optando-se pelo armário de parede a parede. “Este novo desenho aproveita todo o pé-direito disponível, desde as zonas mais altas, superiores a 3 metros, até às mais baixas, com cerca de 1 metro, garantindo máxima capacidade de arrumação sem comprometer a estética do espaço”. 

De entre as principais necessidades, assinala-se o desejo de ampliar e facilitar as circulações, em prol de uma ligação mais orgânica com as zonas principais da casa, e Rita dá como exemplo a grande estante da sala, “que aproveita toda a verticalidade do espaço, destacando o pé-direito alto e sugerindo um caráter arquitetónico muito interessante”. 

No mezanino, a abordagem foi distinta. Aqui, pretendeu-se otimizar o pé-direito, mais baixo, transformando-o numa área de arrumação inteligente e discreta, criando, ainda, uma pequena sala de estar com TV e jogos. “Nem todo o design precisa de ser sério, às vezes, um bom ‘respawn’ também faz parte da arquitetura de interiores (risos)”. A carpintaria foi desenhada com uma linguagem mais minimalista, permitindo integrar os sistemas de ar-condicionado, reposicionados e ocultos, e garantir um espaço mais funcional e visualmente depurado.  Adicionalmente, foi criada uma pequena lavandaria em carpintaria, desenhada de forma a embutir as máquinas de lavar e secar roupa, bem como espaços de arrumação para pequenos eletrodomésticos e outros elementos do quotidiano.  

Amantes confessos da cor, os seus utilizadores não hesitaram em apostar numa paleta vibrante: “Diríamos que a casa reflete bem as suas personalidades: dinâmicos e cheios de energia”. A escolha da paleta cromática e dos acabamentos foi o ponto nevrálgico do projeto “e uma das partes mais entusiasmantes”, desabafa. “É um trabalho feito em sintonia, entre nós e os clientes, um jogo de descoberta e experimentação, onde cada escolha tem um impacto direto no resultado. Quando encontramos quem partilhe essa visão mais ampla e sem medo de arriscar, a magia acontece! Afinal, um projeto sem cor pode ser bonito…, mas com cor, pode ser inesquecível”. 

A seleção do mobiliário e peças de design havia que incidir num equilíbrio perfeito entre peças propostas pelo coletivo e elementos já adquiridos pelo cliente. O objetivo? “Obter um conjunto coeso, com personalidade e fluidez, sem que nada parecesse fora do lugar. Diria que há um forte sotaque dos anos 50 e 60, mas, acima de tudo, este é um espaço cool, divertido e cheio de atitude, desenhado para ser vivido sem regras rígidas, apenas com bom gosto e liberdade”.