Por a 30 Abril 2025

Este é o projeto de uma linda casa implantada junto a um promontório à beira-mar. João Tiago Aguiar assina a arquitetura, que se desenhou para se dissolver na paisagem e cujos interiores se pautam por uma seleção depurada de materiais nobres. As fotografias são de Francisco Nogueira.

Projeto: João Tiago Aguiar / Fotografia: Francisco Nogueira / segundo memória descritiva

Implantada num promontório abrupto sobre as falésias da Azóia, esta intervenção arquitectónica parte do desejo de uma arquitectura que se apaga para deixar lugar ao lugar. A casa dissolve-se na topografia, fundindo-se com o horizonte e ressoando com a escala do lugar. A construção original, composta por um moinho de vento e três volumes interligados de geometrias distintas, revelava intersecções complexas e uma cobertura de inclinações singulares, que convocaram um gesto depurado mas preciso na reinterpretação espacial.

A composição dos alçados foi reformulada, procurando um novo equilíbrio formal e a optimização das relações visuais com o exterior. A intervenção mais densa deu-se no volume central, substituído por um corpo envidraçado, construído com vidro de alta reflectância. Esta opção permitiu criar uma presença silenciosa, espelhando a paisagem e tornando a arquitectura invisível.

Nos alçados do piso térreo, os revestimentos foram executados com azulejos artesanais, bidimensionais e tridimensionais, concebidos pela artista e ceramista MAVC. A aplicação ritmada dos elementos tridimensionais evoca o movimento do oceano, enquanto as tonalidades azul-verde água estabelecem uma continuidade cromática com a vegetação e o mar. Este mesmo princípio foi transposto para a piscina, onde a arquitectura desaparece na matéria do lugar.

No interior, optou-se por uma selecção depurada de materiais nobres, onde o Azul Macaúbas, uma pedra rara e intensamente expressiva, assume o papel de elemento condutor do projecto. A antiga sala multiusos foi resignificada, ganhando uma nova materialidade através de tonalidades rosadas extraídas da pedra do Cabo, em diálogo com carpintarias desenhadas à medida e mosaicos hidráulicos numa sintonia subtil de texturas.

A cozinha, anteriormente isolada, foi incorporada nas zonas sociais, tornando-se parte integrante da vivência quotidiana e ampliando a relação com o oceano.

No piso superior, a reorganização dos compartimentos permitiu transformar três quartos exíguos em duas suites generosas, valorizando o conforto, a luz e a paisagem.

A cobertura e os alçados superiores foram revestidos com cal pigmentada na cor da pedra do Cabo, reforçando a continuidade tectónica entre a casa e o solo, entre o construído e o natural.

Todo o projecto assenta na ideia de uma “arquitectura da não afirmação”, onde cada decisão busca o essencial: a matéria, a luz, a relação com o lugar. Uma arquitectura que se quer silenciosa, mas rigorosa; que se ausenta para revelar a presença do mar, do céu, da falésia. Onde a casa não se impõe, mas permanece.