Por a 21 Maio 2024

A artista visual usa lã do sul do Brasil com tingimento natural extraído de plantas nativas da região. Atualmente, Juliane tem patente a sua primeira exposição – Raízes -, na Barros&Bernard, em Lisboa, até ao dia 8 de junho.

Texto: Isabel Figueiredo / Fotografia: D.R.

A renomada Galeria Barros & Bernard, em Lisboa, acolhe uma série limitada de tapeçarias feitas à mão a partir do uso de lã do Sul do Brasil, designada Raízes, feitas à mão pela artista brasileira Juliane Bock. Oriunda de uma família de mulheres artesãs, e com base nos ensinamentos da mãe, Juliane seguiu a tradição do tricô, que passa de geração em geração. A lembrança dos invernos que a obrigavam a usar roupas de lã grossa para se proteger do frio acabou por dar origem à prática da tapeçaria, um processo orgânico para a artista.

“É muito comum as pessoas do Sul do Brasil tricotarem para a família, além de que a indústria da lã é muito forte naquela região do meu país. As tramas, cores, pontos e modelos do vestuário fazem parte da nossa vida, o que me deixa confortável na hora de escolher texturas e padrões, porque sei o resultado que cada fio me pode dar para decidir que espessura usar, por exemplo”, explica. 

Juliane mergulhou nesta arte durante a pandemia, quando vivia nos Estados Unidos. Depois de comprar um tear, algumas lãs e assistir a tutoriais online, a ocupação deu lugar a uma paixão, motivando um envolvimento profundo com a dedicação à atividade a tempo inteiro. No seu estúdio em Cascais, a artista desenvolveu uma edição exclusiva cujas peças funcionam como obras de arte de parede a divisórias de ambientes.

As obras expostas na Barros & Bernard não se restringem apenas à sua variedade e estética. Há também a preocupação em seguir um ciclo de produção ética: da escolha da quinta que fornece os novelos onde as ovelhas são criadas de forma sustentável; do tingimento natural da lã, com pigmentos extraídos de plantas nativas do Rio Grande do Sul, como a erva-mate, à execução totalmente humanizada no tear. “Procuro saber como e onde os fios são produzidos. Precisamos, cada vez mais, de ter consciência e cuidado com o meio ambiente. O uso racional da água preocupa-me bastante no processo de coloração. Sempre que possível, vou em busca de fios com tingimento natural, feitos com ervas, raízes e cascas”. 

Das lãs que chegam em meadas para iniciar uma nova peça, a artista utiliza a técnica ancestral da tapeçaria em tear, na qual os fios, entrelaçados, formam um tecido. A sua produção também se caracteriza pelo uso de franjas e alguns pontos do macramé. Mas na hora da criação, o processo é intuitivo.

Os seus projetos são feitos por encomenda —  levam de 20 dias a 3 meses para serem produzidos — e os preços variam de acordo com a técnica, tamanho e matéria-prima utilizados. A partir de conversas com os clientes e visitas ao espaço onde serão recebidos, Bock estabelece uma ligação direta entre cada obra e o ambiente em que será inserida. “Construo peças únicas, com alma, para compor a história de uma casa ou de algum lugar que vá receber as minhas criações”. 

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