O arquiteto Phil Nunes abre a porta do seu novo apartamento, onde as memórias de infância convivem com peças de design e obras de arte.
Projeto: NOP Arquitetura / Fotografias: Renata Freitas / segundo memória descritiva
Em 2022, este apartamento de 116m2 e datado dos anos 60 foi comprado pelo arquiteto Phil Nunes, do escritório NOP Arquitetura. Antes da merecida remodelação, o apartamento era extremamente compartimentado, com uma sala pequena, três quartos de tamanho razoável e muita área desperdiçada em circulações, para além de não valorizar o pé-direito de 3,20m.
Após a remodelação, nada ficou como era antes. Como o arquiteto queria um conceito aberto, o projeto integrou a sala, um quarto, o hall de entrada, a cozinha, a área de serviço e um lavabo para criar uma grande área de convívio. “Desenvolvi um layout para estimular a interação das pessoas, sem obstáculos, estando elas no ambiente de estar, jantar ou na cozinha”, explica Phil Nunes.
Foram várias as mudanças que levaram ao resultado final: “O espaço da antiga cozinha hoje abriga a sala de jantar, a área de serviço virou cozinha, o lavabo de serviço foi transformado num cantinho da sapateira, o quarto de serviço agora é uma lavandaria e o tanque de alvenaria foi substituído por uma churrasqueira na cozinha”, conta Phil.
O arquiteto conta ainda que bebeu em duas fontes principais para definir o conceito do seu projeto – na arquitetura de interiores do período moderno brasileiro, com as suas madeiras nacionais em tons mais escuros; e nas suas próprias memórias afetivas. “A ideia de ter um apartamento que me acolhesse estava diretamente relacionado com os espaços da minha infância, seja pelo tom da madeira, pela recuperação do piso original em taco ou pelo aproveitamento de peças familiares. Não idealizei o meu novo lar a pensar em tendências. Queria algo que, acima de tudo, refletisse o meu momento e também me fizesse lembrar a casa dos meus avós”.
Na decoração da área social, alguns itens que Phil herdou da família e peças que ele próprio encontrou ao longo dos anos foram o ponto de partida para definir a composição, com destaque para o banco Ripado em jacarandá (criação de Sergio Rodrigues original dos anos 50, que pertenceu aos seus avós), a escultura do artista Carybé, o telefone do início do século XX, a sopeira de louça e alguns livros antigos que estavam na biblioteca do sítio da família.
Expostos na parede atrás do sofá, os pratos decorativos da italiana Fornasetti, por exemplo, fazem o arquiteto recordar as suas viagens a Milão, onde as peças foram compradas separadamente, por ocasião do Salão Internacional do Móvel.
Já entre as obras de arte, com exceção do quadro Forever Young, que é novo (em destaque acima do sofá), todas foram adquiridas pelo arquiteto ao longo de anos, sendo as mais recentes com temática homoerótica, dos artistas Rafael Dambros e Francisco Hurtz, em destaque no seu próprio quarto, na parede atrás da cabeceira da cama.
Na sala de jantar, o quadro de estilo mais clássico, do artista Romanelli (arrematado em leilão), divide espaço com uma obra do fotógrafo contemporâneo Kiolo. Já na parede verde da cozinha, a imagem da vitória-régia apoiada na prateleira superior foi registada pela fotógrafa Renata Freitas. Por fim, no quarto de hóspedes, há quadros dos artistas Virgílio Dias e Aécio Sarti.
O fio condutor para definir a paleta de cores da área social com cozinha integrada foi a madeira pau-ferro, presente no acabamento interno da porta de entrada, no painel-estante-louceiro que cobre toda a parede da tv, no pilar transformado em estante próximo da janela e em alguns armários e prateleiras da cozinha.
“Para quebrar a seriedade deste material, de tom mais escuro, optei por uma base mais neutra e clara no restante, além do verde na cozinha”, revela Phil. Os tons de verde também aparecem em algumas almofadas e no tampo de uma mesa central, e ganharam a companhia de elementos de cor terrosa, entre esculturas, vasos e tapete.
Por último, foram escolhidos tecidos em linho natural, com diferentes tramas, que aparecem no estofamento do sofá (modelo Rocco, assinado por Luan del Savio, da Way Design), da chaise (modelo Cozy, do Studio Mapa) e nas cortinas; enquanto o couro natural está presente no assento das cadeiras pretas da sala de jantar, na fruteira, no banco da sapateira e na poltrona Kilin, assinada por Sergio Rodrigues.