Localizado numa área residencial de Lisboa, o apartamento fica num edifício clássico, da primeira metade do século XX, recentemente ampliado na parte de trás. Serve uma família de franceses, um casal e dois filhos, que procuraram a expertise do coletivo de arquitetos de interiores e paisagistas de Chadi Abou Jaoude, com quem já haviam trabalhado no passado.
Projeto: Chadi Abou Jaoude / Fotografias: Sebastian Erras / Texto: Isabel Figueiredo
Pese embora a gentrificação — uma realidade exponencial naquele que é um dos bairros mais elegantes da cidade —, a autenticidade do lugar, com o comércio de rua de qualidade, as fachadas históricas recuperadas e os espaços verdes bem cuidados, mantém-se. Um fator de sedução para muitos, tal como o foi para esta família de franceses, que decidiu sair de Paris para criar os seus filhos num ambiente mais tranquilo e relaxado.
“Nestes últimos anos, acabámos por ficar muito próximos (dos clientes), já que esta é talvez a nossa quinta ou sexta colaboração”, conta-nos o arquiteto Chadi Abou Jaoude, do coletivo com o mesmo nome. “Mas cada novo projeto é, também, um novo desafio”, destaca Chadi, para quem é “um enorme prazer trabalhar com esta família”.
O edifício lisboeta, entretanto recuperado, havia sido alvo de uma ampliação na parte de trás, rompendo por completo com o estilo original, “o que explica a diferença de estilo entre a sala de estar principal, com os seus tetos altos e janelas tradicionais, e o quarto do casal, com tetos relativamente baixos e grandes janelas panorâmicas”.
O apartamento que é hoje habitado por esta família estava em ótimas condições de habitabilidade, “mas eles queriam personalizá-lo a seu gosto”, prossegue Chadi, que ressalta o facto de tudo ter sido remodelado há pouco tempo pelo anterior proprietário, que recorreu “à talentosa arquiteta Caroline Cuvillier e a artesãos e artistas locais, caso de Iva Viana, para a execução das belas molduras no teto da sala de estar”.
Chadi continua: “A área é muito tranquila e o apartamento é rico em qualidades espaciais, com tetos altos de um lado, grandes janelas panorâmicas do outro e um belo terraço nos fundos. O seu piso, em parquet de carvalho maciço XXL, confere-lhe um charme inegável, além da escadaria escultural, projetada por Caroline Cuvillier”.
A sua tipologia, duplex, permite o máximo de privacidade, dividindo-se as áreas diurnas das noturnas em dois pisos. Assim, o piso diurno, em baixo, soma 180m2 e é composto pela sala de estar, escritório e sala de jantar/cozinha e todas estas áreas estão interligadas. Os espaços exteriores têm 60m2 e são acessíveis pela cozinha e pela sala de estar. O andar noturno tem 80m2 e inclui a suíte principal, equipada com uma varanda que oferece uma vista magnífica da cidade, os dois quartos dos filhos, um closet e os espaços de banho.
Por se tratar de um casal que gosta de colecionar pintura, fotografia e peças de arte, além de tantos e tantos livros, o grande desafio consistiu em como “exibir cada objeto e alinhar os milhares de livros e, ao mesmo tempo, imprimir um certo charme ao conjunto sem transformá-lo numa confusão”. Surgiu, assim, “a ideia de criar as enormes estantes desenhadas e feitas sob medida, alternando prateleiras e nichos de diferentes tamanhos, lembrando um armário das mil e uma curiosidades”. Como em qualquer projeto, é o início, a fase de “design, aquela que eu considero a mais empolgante”, diz-nos o arquiteto. “Pesquisar, dissecar o estado existente, analisar os seus pontos fortes, o que manter ou eliminar, que história criar e contar, que estilo escolher… Todas estas perguntas são feitas repetidamente, levando em conta os desejos e as necessidades do cliente”.
O lindíssimo parquet de carvalho XXL do apartamento, muito presente tanto no chão como nalgumas paredes, acabou por ser determinante para a seleção dos materiais: “Optámos pela simplicidade e alguma restrição no que toca aos revestimentos e outros. Até mesmo os trabalhos de marcenaria, como as estantes para os livros, receberam uma pintura, para se aproximarem das paredes e, dessa forma, não sobrecarregar o espaço. Mas essa também foi uma decisão consciente, ou seja, destacar os objetos de arte e nada mais”.
O apartamento é composto por uma parte antiga e uma outra, muito mais recente, e esta diferença também teve a sua influência nas decisões tomadas. “Queríamos distinguir/marcar essa diferença optando por estilos e cores distintos nessas partes”. O piso de parquet de carvalho em todo o apartamento assegura continuidade entre as duas áreas. “Para a zona mais antiga, optámos por tons quentes e naturais; as paredes são ‘greige’, assim como as estantes de livros, que se diluem nas paredes. Para imprimir contraste, introduzimos a cor tijolo, em pequenos toques, caso dos nichos das estantes e nalguns acessórios. Os móveis permanecem neutros e no mesmo tom de cinza e bege”.
Na parte mais recente do apartamento, as paredes são brancas e a mobília é toda de design e em cores vivas. “O mobiliário é bastante variado, mas não deixa de ser, em grande parte, de design e contemporâneo. Os sofás redondos da sala de estar Saint Germain, da Poliform, e as poltronas Coach, da Saint Luc, com silhuetas envolventes, criam uma bolha de conforto. As várias mesas de centro redondas, em diferentes mármores, acrescentam leveza ao espaço e estão em linha com esta escolha para a área mais recente do duplex. De Paris a Lisboa, para uma vida mais feliz.